Perto do Coração Selvagem (Clarice Lispector)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023


Ficha Técnica:

Nome Original: Perto do coração Selvagem
Autora: Clarice Lispector
País de Origem: Brasil
Número de Páginas: 203 
Ano de Lançamento: 1943
ISBN-13: 9788532508102
Editora: Rocco
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Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 11º livro lido em 2023 e foi Perto do Coração Selvagem (Clarice Lispector). Nunca tinha lido nada da autora e confesso que me sentia intimidada por ela em função de sua jornada de sucesso, porém me desafiei e a experiência foi gloriosa.

O livro nos traz Joana, uma personagem peculiar, muito intensa e vibrante. Joana é uma personagem que não sabe o que é moral, é impulsiva e destemida. Tem uma forte aversão pela bondade e por pessoas extremamente afáveis. Durante a leitura vemos o quão difícil é para ela, desde pequena, lidar com a vida exterior cercada por pessoas e ser interiormente atormentada pelas incertezas do seu lugar no mundo. Joana sente-se deslocada, não consegue encontrar um lugar comum, pertencer a algo.
“[…] as criaturas não eram admitidas no seu interior, nele fundindo-se. As relações com as pessoas tornavam-se cada vez mais diferentes das relações que mantinham consigo mesma. A doçura da infância desaparecia nos seus últimos traços, alguma fonte estancava para o exterior e o que ela oferecia aos passos estranhos era areia incolor e seca. Mas ela caminhava para frente, sempre para a frente como se anda na praia, o vento alisando o rosto, levando para trás os cabelos.” (página 54)
A narrativa é feita a partir das lembranças de Joana até a sua vida adulta. O fluxo de consciência é constante na obra e conhecemos a mente e os desejos mais íntimos da personagem.
Joana é órfã de mãe e pai e logo após a morte do segundo, ela muda-se para a residência dos tios. Porém, ao conhecerem a natureza amoral da personagem, seus parentes resolvem levá-la a um internato, onde Joana vive até sua vida adulta.
Todo o caminho percorrido pela personagem é permeado por devaneios e questionamentos. Ações simples como tomar um banho, deitar em uma cama, olhar além de uma janela transformam-se em fragmentos de pensamentos, repletos de genuinidade. Um dos capítulos intitulados como “O banho” é de uma potência narrativa e introspectiva, crível e verossimilhante. O leitor é convidado a imergir com Joana nessa atividade tão corriqueira:
“Levanto-me suave como um sopro, ergo minha cabeça de flor e sonolenta, os pés leves, atravesso campos além da terra, do mundo, do tempo, de Deus. Mergulho e depois emerjo, como de nuvens, das terras ainda não possíveis, ah ainda não possíveis. Daquelas que eu ainda não soube imaginar, mas que brotarão. Ando, deslizo, continuo, continuo… Sempre, sem parar, distraindo minha sede cansada de pousar num fim.” (página 58)
Ler “Perto do Coração Selvagem” é como uma viagem psíquica entre pensamentos e emoções. A vida não é o bastante à personagem, que necessita de algo mais, indefinido.

Entre as decisões da personagem em perseguir suas respostas, encontram-se em seu caminho Otávio e Lídia, figuras que farão parte de algo muito íntimo e vívido à Joana. Um casamento sem amor com Otávio, triângulos amorosos por ambas as partes. Todas as ações serão cruciais aos questionamentos incessantes da personagem e essa procura é o mais forte laço narrativo na obra de Lispector. A vida é vista sob uma nova perspectiva, é maior que o exterior de seus personagens. A voz da personagem em busca da verdadeira felicidade, aquela que segundo ela é a felicidade solitária, isolada do mundo.

Foi uma leitura que me fisgou, me comoveu, me incomodou e trouxe uma série de sentimentos e sensações que eu não tinha com um livro há muito tempo. Na verdade, não sei nem se a tive algum dia. Foi forte e acho que não sou capaz de descrever com palavras porque tudo é muito simples para descrever de fato o que senti com a escrita.

Adorei!



Um pouco sobre a autora:
Clarice Lispector, nasceu Haia Lispector em Chechelnyk, no dia 10 de dezembro de 1920 e faleceu no Rio de Janeiro 9 de dezembro de 1977. Ela foi uma escritora brasileira, nascida na Ucrânia. Autora de linha introspectiva, buscava exprimir, através de seus textos, as agruras e antinomias do ser. Suas obras caracterizam-se pela exacerbação do momento interior e intensa ruptura com o enredo factual, a ponto de a própria subjetividade entrar em crise. De origem judaica, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. A família de Clarice sofreu a perseguição aos judeus, durante a Guerra Civil Russa de 1918-1921. Seu nascimento ocorreu em Chechelnyk, enquanto percorriam várias aldeias da Ucrânia, antes da viagem de emigração ao continente americano. Chegou no Brasil quando tinha dois anos de idade. A família chegou a Maceió em março de 1922, sendo recebida por Zaina, irmã de Mania, e seu marido e primo José Rabin. Por iniciativa de seu pai, à exceção de Tania – irmã, todos mudaram de nome: o pai passou a se chamar Pedro; Mania, Marieta; Leia – irmã, Elisa; e Haia, Clarice. Pedro passou a trabalhar com Rabin, já um próspero comerciante. Clarice Lispector começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade do Recife, onde passou parte da infância. Falava vários idiomas, entre eles o francês e inglês. Cresceu ouvindo no âmbito domiciliar o idioma materno, o iídiche. Foi hospitalizada pouco tempo depois da publicação do romance A Hora da Estrela com câncer inoperável no ovário, diagnóstico desconhecido por ela. Faleceu no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário. Foi sepultada no Cemitério Israelita do Caju, no Rio de Janeiro, em 11 de dezembro.

Alguns de seus livros publicados:
  • Todas as Cartas
  • As Palavras e o Tempo
  • O Livro dos Prazeres
  • Todas as Crônicas
  • Correio para Mulheres
  • A Paixão segundo G.H.
  • Elas Por Elas
  • Todos os Contos
  • O Conto Brasileiro Contemporâneo
  • O Tempo
  • Doze Lendas Brasileiras
  • Água Viva
  • A Hora da Estrela
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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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