Oi gente que ama livros, hoje venho com mais um post da coluna Séries do Meu Coração e compartilharei com vocês meu amor por mais uma série apaixonante.
Embora o Linha Direta tenha ido ao ar em 1990 pela primeira vez, o registro que o programa tem para a maioria das pessoas é o de Marcelo Rezende, com seu tom de voz dramático, descrevendo crimes naquela melodia pausada, usando muitas palavras eloquentes; muito embora tenha sido Domingos Meirelles quem ficou à frente do programa por mais tempo. As lembranças do Linha Direta são duras, sombrias; e não é difícil que muitos incautos tenham sentido medo vendo algum dos programas.
A linguagem do Linha Direta era influenciada diretamente pelo seu objetivo primordial: prender criminosos. Por causa disso, é claro, precisava dialogar com o popular, com o direto e o simples. Seus roteiros eram expositivos e as simulações encenadas – mesmo que sem nenhuma inventividade – precisavam existir para alcançar a empatia do espectador. Era através delas que testemunhas eram convencidas a fazer denúncias. Elas empobreciam um pouco o produto final, mas tinham uma função inquestionável.
Em 2007, quando deixou de ir ao ar, o programa já tinha capturado mais de 400 criminosos. A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro concedeu à TV Globo uma medalha de honra pelos serviços prestados às autoridades. O programa funcionava, era sucesso de audiência e mantinha ligado à rede o nicho de espectadores que fazia a estrutura continuar girando. Contudo, com o tempo foi pairando sobre a atração uma discrepância entre sua forma e os objetivos da emissora; que vinha claramente num processo de reenquadramento de programação. As noites após a novela das 21h eram dedicadas às séries nacionais e reality shows. O Linha Direta era o ponto fora da curva.
Chegando até os dias de hoje, o gênero True Crime vive um outro momento, uma outra forma, uma outra estrutura. De fato, ele agora se imbui de suas características e sua nomenclatura. Estamos falando de um filão do streaming, que principalmente através das séries documentais, estabeleceu uma linguagem vigente que vai se reproduzindo progressivamente. Vivemos a era em que os documentários sobre crimes famosos tem depoimentos, animações, registros imagéticos de todo tipo; e onde as encenações são ilustrativas, sem diálogos e geralmente estilizadas. O Linha Direta não poderia voltar como ele era; claro que não.
A primeira decisão estética foi a de colocar Pedro Bial à frente da apresentação. Pedro é quase o “anti-Marcelo Rezende”. Sua voz está associada a discursos poetizados para eliminar participantes de reality show e a tons afáveis de intelectualidade. É quase como se o Jô Soares estivesse apresentando o programa. Bial foi uma escolha calculada para dar ao retorno um novo tipo de credibilidade, muito mais associada à essa maneira contemporânea de relatar eventos criminais.
Junto de Pedro vieram os recursos. No primeiro episódio da temporada foi montada no estúdio uma réplica de partes estruturais ligadas do Caso Eloá, de 2008: a planta da casa, a icônica janela por onde ela aparecia…. Tudo muito elegante e muito respeitável. Os envolvidos diretamente na história se recusaram a aparecer, o que enfraqueceu alguns pontos da narrativa, tornando a escolha do caso para a estreia um pouco ambígua. Bial conseguiu falar com o negociador, com especialistas e técnicos. Mas, Eloá passou apenas pela ótica de um dos sobreviventes libertados no começo do sequestro e de uma vizinha da família. A coisa toda ficou esquisita, já que é em programas policiais vespertinos que costumamos ver vizinhos, “amigos da família” e “conhecidos da região” dando exaustivas declarações sobre o pouco que sabem dos acontecimentos.
Toda essa evolução de técnica e teoria, somou demais para o programa que me ganhou facilmente no primeiro episódio. Eu não assistia na versão anterior, embora soubesse do que se tratava. Porém, o ganho maior pra mim, ainda é o momento final, quando crimes sem solução ou com criminosos foragidos são expostos e contam com a ajuda do telespectador.
Enfim, eu estou totalmente viciada e adorei a primeira temporada!
Propaganda do primeiro episódio