O Homem que Colecionava Manhãs (Liberato Vieira da Cunha)

domingo, 7 de junho de 2015


As férias finalmente chegaram e consegui voltar a ler por prazer. E pra começar a leitura, não escolhi um livro, fiz um sorteio no meu pote de 'Livros pra Ler" e saiu O HOMEM QUE COLECIONAVA MANHÃS, de Liberato Vieira da Cunha. Comprei o exemplar na Bienal de 2012, aqui em SP, por acaso, naquelas promoções de final de feira, sem conhecer o autor. e não foi minha surpresa que o livro é surpreendentemente maravilhoso. 
Como pode um homem, aos 36 anos de sua solidão, passar sem vinho? Como pode passar sem conhaque, sem cana, quando a grana é escassa e sua ocupação é perder a vida? (pag 10) 
Nele, conhecemos Alberto, gaúcho de Alhandra, interior do Rio Grande do Sul, morador de Porto Alegre em 1945, quando o conhecemos. A história se passa de maio a dezembro desse ano. O livro é escrito em formato de diário narrativo, com alguns diálogos. Ao poucos, Liberato, nos apresenta um narrativa intrigante, intermeada de cartas escritas por Alberto. Este é funcionário público da Prefeitura de Porto Alegre, em um almoxarifado, e como ganha muito pouco escreve cartas para complementar sua renda. 
Quantas vezes minto por dia?, vou pensando a caminho de casa. Quantas vezes minto a mim mesmo que as coisas caminham bem, que já que tenho um emprego, um quarto, três refeições por dia, toda bebida que puder emborcar, não devo me preocupar com ninharias tipo um futuro, um destino, sonhos? (pag 32) 
Morador de uma pensão humilde, Alberto é solitário, bebe todos os dias vinho ou conhaque, e frequenta 'cabarés' para se aliviar da tensão do dia a dia. Aos poucos, temos a ciência da vida passada dele, do porque chegou a situação deprimente em que se encontra. Do porque seu irmão advogado o mau trata, porque o pai o 'deserdou' há tantos anos, e do porque ele não concluiu os estudos. Conhecemos os amores e amantes de Alberto, que o levam ainda mais a uma aura de depressão e descontentamento. 
Mas me faz mal estar sozinho esta noite. Me faz mal lembrar que vivemos na mesma cidade, eternamente sentenciados ao desencontro. (pag 59) 
Me apaixonei pela poesia em forma de prosa, que me fez ler o livro no metrô, no ônibus, andando nas calçadas (quase fui atropelada, inclusive); e de 'ouvir' o sotaque gaúcho nos diálogos, como se os personagens sussurrassem no meu ouvido. Gosto de livros assim, arrebatadores. 

Uma das características da escrita que mais me encantou foi a construção da narrativa com suspense e descrição, que não dá todas as respostas, mas nos faz pensar e chegar a conclusão sozinhos. 
Não te desculpa, Alberto. Uma pessoa se diminui quando se desculpa, especialmente se não há por quê. Na maioria dos casos não há, são os outros que nos devem desculpa. (pag 194) 
Agora o jogo mudou. Acho que meu coração endureceu. Nele não há mais lugar para perdoar os outros. Eu devia dedicar o resto da minha vida a me perdoar. Mas ainda que seja uma longa vida, não sei se vou conseguir algum dia me perdoar inteiramente. (pag 274) 

Um Pouco sobre o autor: Liberato Vieira da Cunha nasceu em Cachoeira do Sul, Brasil, em 25 de maio de 1945. Iniciou-se no jornalismo aos 14 anos. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da UFRGS. Especializou-se em jornalismo na Alemanha, em 1982 e 1987. É detentor de vários prêmios nacionais e internacionais na área do jornalismo e da literatura, dentre os quais um Erico Verissimo, dois Açorianos, um Norton e um da Sociedad Interamericana de Prensa, um prêmio Kronika, além do grau de Chevalier des Arts e des Lettres da República Francesa. Liberato Vieira da Cunha é dono de um estilo direto e despojado, ora marcado pelo lirismo, ora pela nostalgia e o humor. Várias de suas crônicas e contos foram traduzidos em países da América Latina e na Alemanha. Seus livros publicados no Brasil são:

  • Miss Falklands (crônicas e contos, 1983) 
  • Um hóspede na sacada (crônicas e contos, 1985) 
  • A mulher de violeta (crônicas e contos, 1990) 
  • As torrentes de Santaclara (romance, 1993) 
  • Um visto para o Interior (crônicas, 1996) 
  • A morte do violinista (contos, 1997) 
  • A Companhia da Solidão (crônicas, 2000)
  • Tratado das Tentações (crônicas, 2002)
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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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