FILME DA VEZ #150 Gladiador II

terça-feira, 26 de novembro de 2024

Ficha Técnica:
Título Original: Gladiator II
Ano de Produção: 2024
Lançamento no Brasil: 14 de novembro de 2024
Duração: 150 minutos
Gênero: Ação, Aventura e Drama
País de Origem: Estados Unidos
Classificação: 16 anos
Direção: Ridley Scott
Roteiro: David Scarpa e David Scarpa
Elenco: Connie Nielsen, Denzel Washington, Fred Hechinger, Joseph Quinn, Paul Mescal, Pedro Pascal, Alec Utgoff, Alexander Karim, Derek Jacobi, Hadrian Howard, Lee Charles, Lior Raz.
Sinopse: Na continuação, que segue ambientada na Roma Antiga, anos depois de testemunhar a morte do venerado herói Maximus nas mãos de seu tio, Lucius (Paul Mescal) é forçado a entrar no Coliseu depois que seu lar é conquistado pelos imperadores tirânicos que agora comandam Roma com mão de ferro. Com a raiva em seu coração e o futuro do Império em jogo, Lucius deve olhar para o seu passado para encontrar força e honra para devolver a glória de Roma ao seu povo.
Oi gente que ama livros, hoje trago para vocês os meus comentários sobre Gladiador II.

Desde o lançamento de Gladiador, nas últimas duas décadas, Ridley Scott lançou um filme atrás do outro e chegou a ter duas produções lançadas no mesmo ano. Uma delas foi Todo Dinheiro do Mundo, onde foi obrigado a substituir Kevin Spacey por Christopher Plummer quase um mês antes da estreia – e fez tudo isso em pouco mais de uma semana. Mesmo com tantos feitos neste contexto, ainda impressiona quando ele afirma ter feito um filme na escala de Gladiador 2, em apenas 51 dias (sem contar a paralisação pela greve dos roteiristas e atores). Durante a sessão, foi impossível não lembrar de Aaron Burr, em Hamilton, quando ele questiona o trabalho de Alexander escrever como se estivesse ficando sem tempo. Aos 86 anos, Ridley Scott assumiu de vez esse pensamento.


E o que poderia ser um caminho fácil, ao apenas dar continuidade à história do general que desafiou o imperador, Scott cria uma nova dinâmica, muito mais próxima do seu cinema atual, do que a mensagem estóica de Maximus (Russell Crowe). O general que perdeu tudo, virou escravo e depois gladiador; homem que aceitou de vez a missão passada por Marcus Aurelius (Richard Harris) de derrubar aquela Roma pervertida – representada por Commodus (Joaquin Phoenix) –, para entregá-la a uma nova República, comandada pelo Senado, mesmo que isso lhe custe a vida. Com Gladiador 2, Ridley Scott volta aos comentários sarcásticos sobre corporações e impérios – como visto em Casa Gucci, O Último Duelo e Napoleão. Tudo isso para mostrar o embate entre os conceitos de poder e ideal, vingança e dever e lealdade e rebeldia de seus novos personagens inseridos na tragédia desta Nova Roma.


Ao contrário de simplesmente repetir os arquétipos do primeiro filme, Scott divide em Lucius (Paul Mescal) e Acacius (Pedro Pascal) as virtudes e dilemas de Maximus. O primeiro é afetado pela implacabilidade do Império Romano, por quem nutre o rancor mostrado nos encontros com Lucilla (Connie Nielsen), a irmã do ex-imperador. Ao contrário do gladiador do passado, o herói de agora vê o império como algo podre, que sobrevive por seus atos de repressão e lendas como a loba que criou Rômulo e Remo. Por que ele deveria lutar por quem tirou tudo dele? Já Acacius, é um general e comandante, que se frustra ao lutar por uma sociedade que só pensa na conquista e não em quem a move. O conflito interno de Maximus se materializa, quando Scott coloca Lucius e Acacius em rota de colisão, assumindo o drama novelesco com Lucila no centro da história.


O drama palaciano e as intrigas não são nada sutis em Gladiador 2, e Ridley Scott não poderia escolher melhor o grande representante deste pilar da história: o Macrinus de Denzel Washington. Como num reflexo de seu próprio papel, Denzel vai engolindo o filme aos poucos, cena após cena, assim como o vilão articula com a política despreparada e mesquinha da Roma construída por Scott. Nunca confortável nas túnicas e panos que veste, Macrinus vive pelo agora e não pelo eco na eternidade, do lema de Maximus. É como ver o Alonzo, de Dia de Treinamento, vestindo a fantasia dourada romana, driblando e jogando como parte de um sistema político e sem escrúpulos.


Nada é sagrado nesse Império, nem mesmo o realismo histórico. Se o primeiro Gladiador era o retorno aos épicos e seus fãs procuravam nos fundamentos a reprodução de cada milímetro daquela Roma digital, a sequência traz o diretor abraçado ao fantástico, ao colorido e ao exagero para dar vida à uma sociedade em ebulição. Os dois novos imperadores, Geta e Caracalla (os ótimos Joseph Quinn e Fred Hechinger) são a hipérbole da careta que Joaquin Phoenix como Commodus. O símbolo com o polegar ganha uma interpretação muito mais exagerada e teatral na mão de Quinn. As lutas no Coliseu deixaram de ser saias e espadas, e geraram embates com rinocerontes, tubarões numa guerra campal. É fantástico ver que Gladiador 2 sempre procura extrapolar as situações do primeiro, quando poderia simplesmente ter sido uma cópia ou um soft reboot.

Quando Scott se aproxima dessa nostalgia barata, Gladiador 2 falha. A relação de Lucius e a esposa - que ao contrário da mulher de Maximus, não morre como dona de casa esperando o marido voltar da guerra - não tem a força necessária para o drama que vai levar Paul Mescal a lutar no Coliseu. Essa força deveria vir da relação dele com Lucilla, mas - por conta do texto fraco - exige demais de uma Connie Nielsen que não parece confortável no papel. Ambas as mulheres da vida de Lucius são usadas com o mesmo artifício na história, o que prejudica inclusive as tomadas de decisões dele, tanto com o Império, quanto com o Acacius, de Pedro Pascal.

Ao final de Gladiador 2, fica difícil saber se os fãs do original realmente vão gostar dessa nova investida de Ridley Scott na Roma Antiga. Tudo que eles mais amaram por lá, a mensagem edificante de Maximus, a honra, a sobriedade, são mencionadas, mas não são o maior interesse do diretor. O cinema de Scott não é mais aquele. O diretor anda longe do lado cisudo de Falcão Negro em Perigo, Cruzada ou Robin Hood. Gladiador 2 é pop - tem crossfit! -, é debochado, crítico, fantástico e acelerado. É um filme que não tem tempo a perder com livros de história, nostalgia ou promessas de ecoar pela eternidade. Essa batalha Scott já conquistou, e assim como seus gladiadores, ele agora desfruta da liberdade.

Eu adorei!!!

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Ivi Campos

48 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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