Holocausto Brasileiro (Daniela Arbex)

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Ficha Técnica:

Título Original: Holocausto Brasileiro
Autora: Daniela Arbex
País de Origem: Brasil
Editora: Intrínseca
Número de Páginas: 276
Ano de Publicação: 2013
ISBN: 9788581301570
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Oi, gente que ama livros! Hoje venho com a resenha do 45º livro lido em 2023, que foi Holocausto Brasileiro (Daniela Arbex). Este é o terceiro livro da autora que leio, sendo que um deles, 'Todo Dia a Mesma Noite', é um dos meus livros favoritos da vida, e a outra leitura dela também foi extremamente positiva. Este livro aqui traz um documentário escrito e fotografado sobre uma casa de saúde mental no interior de Minas Gerais, que foi responsável pela morte de aproximadamente 60 mil brasileiros.


Lembro-me bem de ter visto a Bel Rodrigues indicando esse livro pela primeira vez, e embora estivesse curiosa, confesso que tinha receio de ler sobre as atrocidades registradas pela autora. No entanto, foi um vídeo da Pollyana, do canal Entre Livros e Personagens, que realmente me convenceu a me arriscar na leitura.
“Sessenta mil pessoas perderam a vida no Colônia. As cinco décadas mais dramáticas do país fazem parte do período em que a loucura dos chamados normais dizimou, pelo menos, duas gerações de inocentes em 18.250 dias de horror. Restam hoje menos de 200 sobreviventes dessa tragédia silenciosa.”
O livro é extremamente cruel, trazendo de forma real o relato de diversos personagens do Colônia. Durante a leitura, o que me deixava indignada não era somente o tratamento desumano aos pacientes, mas também as internações, muitas vezes sem que os pacientes tivessem qualquer transtorno mental que justificasse sua internação.


“A estimativa é que 70% dos atendidos não sofressem de doença mental. Apenas eram diferentes ou ameaçavam a ordem pública. Por isso, o Colônia tornou-se destino de desafetos, homossexuais, militantes políticos, mães solteiras, alcoolistas, mendigos, negros, pobres, pessoas sem documentos e todos os tipos de indesejados, inclusive os chamados insanos. A teoria eugenista, que sustentava a ideia de limpeza social, fortalecia o hospital e justificava seus abusos. Livrar a sociedade da escória, desfazendo-se dela, de preferência em local que a vista não pudesse alcançar.”

São retratadas, sobretudo, mulheres consideradas 'histéricas' ou aquelas que fugiam das regras patriarcais.
“As mulheres andavam em silêncio na direção do Departamento A, conhecido como Assistência. Daquele momento em diante, elas deixavam de ser filhas, mães, esposas, irmãs. As que não podiam pagar pela internação, mais de 80%, eram consideradas indigentes. Nessa condição, viam-se despidas do passado, às vezes até mesmo da própria identidade. Sem documentos, muitas pacientes do Colônia eram rebatizadas pelos funcionários. Perdiam o nome de nascimento, sua história original e sua referência, como se tivessem aparecido no mundo sem alguém que as parisse.”
Há ainda diversas outras atrocidades em relação às crianças, como condições básicas de higiene e alimentação inadequadas, além do uso indevido de corpos quando os pacientes morriam. As práticas de psiquiatria são tenebrosas, envolvendo tratamentos de choque e banhos frios utilizados para "curar" os internos. Além das várias negligências do Estado, também havia conivência de várias instituições, inclusive as universitárias, transformando o Colônia em um mercado que atuou assim por várias décadas. É o mesmo questionamento que surge quando lemos sobre a escravidão, os campos de concentração na Segunda Guerra Mundial, o genocídio indígena: como tudo isso pôde acontecer sem que as pessoas fossem punidas?

Por mais triste que seja, devemos ler e conhecer esse tipo de realidade, para que eventos semelhantes não voltem a ocorrer. É nosso dever, como seres humanos, estarmos armados com conhecimento para garantir nossa sobrevivência. Por isso, livros com essa temática têm despertado cada vez mais meu interesse, usando a literatura para desmascarar e reescrever a história dos excluídos, das minorias que continuam sendo mortas injustamente.
"O fato é que a história do Colônia é a nossa história. Ela representa a vergonha da omissão coletiva que continua fazendo mais vítimas no Brasil. Os campos de concentração vão além de Barbacena. Eles estão presentes nos hospitais públicos lotados, que continuam funcionando precariamente em muitas outras cidades brasileiras. Multiplicam-se nas prisões, nos centros de socioeducação para adolescentes em conflito com a lei, nas comunidades à mercê do tráfico. A indiferença diante dessa realidade nos transforma em prisioneiros dela. Ao ignorá-la, nos tornamos cúmplices dos crimes que se repetem diariamente diante de nossos olhos. Enquanto o silêncio encobrir a indiferença, a sociedade continuará avançando em direção a um passado de barbárie. É hora de escrever uma nova história e mudar o final."
O livro traz muitas fotografias que, confesso, não prestei muita atenção. Na verdade, evitei ver as fotos porque este livro surgiu de uma denúncia que começou com essas fotografias, então elas são bastante impactantes.



A leitura foi devastadora, mas extremamente relevante quando pensamos em como as pessoas enxergam os diferentes, aqueles que estão fora do padrão, as pessoas que veem e vivem de forma particular.

Sofri, mas amei!


Um pouco sobre a autora:
Daniela Arbex é uma das jornalistas do Brasil mais premiadas de sua geração, tem mais de 20 prêmios nacionais e internacionais no currículo, entre eles três prêmios Esso, o americano Knight International Journalism Award (2010) e do prêmio IPYS de Melhor Investigação Jornalística da América Latina (2009). Há 20 anos trabalha no Jornal Tribuna de Minas, onde é repórter especial.

Seus livros publicados são: 
  • Arrastados
  • Os Dois Mundos de Isabel
  • Todo dia a mesma noite
  • Cova 312
  • Holocausto Brasileiro
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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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