Oi gente que ama livros, hoje venho com mais um post da coluna Séries do Meu Coração e compartilharei com vocês meu amor por mais uma série apaixonante.
A série do mês é 3%.
Aos 20 anos, os seres humanos têm a chance única de participar de uma seleção conhecida como Processo. A dificílima disputa premia apenas 3% dos concorrentes com uma vaga à sociedade perfeita de Maralto, provida de tudo para todos. O resto da população vive na miséria do Continente, refém da pequena parcela da população mantenedora desse cenário de forte segregação social. O mundo digno é exclusivo para as pessoas mais merecedoras.A premissa de 3% é, portanto, muito real e muito atual. A meritocracia repetida como mantra pelo líder do Processo, Ezequiel, é a questão principal da série e explorada com uma dualidade interessante. Na maior parte do tempo, os concorrentes são avaliados e analisados de forma justa. O mérito não é o problema. Desumana é a existência de um estado de coisas tão desigual, bem como a seleção de quem poderá viver dignamente ou não. Mostrar que a elite que discursa sobre a justiça do Processo é a mesma que promove o injusto status quo da sociedade é um recado importante.
Nesse cenário, 3% consegue ser duplamente relevante. Pelo discurso e também por conseguir integrar um elenco tão diversificado sem deturpar sua mensagem. Assim, vemos negros em posições importantes, sem estereótipos. Um dos protagonistas, Fernando, é cadeirante e retratado como a pessoa normal e inteligente que é, com direito a vida sexual tão ativa quanto sua voz. Da mesma forma, as principais personagens femininas — Michelle, Joana, Aline, Nair — passam facilmente no Teste de Bechdel.
O problema é como isso tudo se articula e se transforma numa produção audiovisual.
Um detalhe que me incomodou nos episódios da primeira temporada é que a série diz mais do que mostra. Isso não acontece nas demais temporadas, em que a inteligência do telespectador é necessária para entender as entrelinhas e raciocinar com os personagens.
3% acerta na fotografia, com sua iluminação intensa, o efeito bonito de luzes estourando pontualmente. Nos enquadramentos tortos, em ângulos enviesados, a imagem realça a visão viciada dos que habitam o Processo e aquela realidade bizarra, ao mesmo tempo futurista e atrasada, em termos éticos. Aqui sim há uma boa combinação de forma e conteúdo.
3% é um esforço de uma produção diferente, ousada e com enredo forte e extremamente relevante aos dias de hoje, em que a grande diferença da sociedade ocidental está na má distribuição de oportunidades. É uma série viciante, com atuações maravilhosas e alimenta o orgulho de ter uma produção nacional dentro do maior streaming mundial.
Confiram o trailer: