As Cem Melhores Crônicas Brasileiras (vários autores)

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

FICHA TÉCNICA
Nome original: As Cem Melhores Crônicas Brasileiras
Organizador: Joaquim Ferreira dos Santos
País de origem: Brasil
Número de páginas: 322
Ano de Lançamento: 2018
ISBN: B0796GP765
Editora: 

Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 79º livro lido em 2019 e foi As Cem Melhores Crônicas Brasileiras (vários autores). Já fazia muito tempo que eu não lia crônicas e quando ganhei este livro de um amigo do trabalho, fiquei curiosíssima para ler “as cem melhores”, uma vez que a grade maioria de crônicas que eu li na vida são de fato brasileiras.

A crônica é um gênero narrativo que sempre teve relação com o jornalismo porque costuma ser publicada em jornais. Se essas publicações se tornam populares, geralmente é feita uma coletânea com as melhores e comercializada em forma de livro. Por isso mesmo, é difícil encontrar um (a) cronista que não seja ou não tenha sido também jornalista. Acho uma pena que a crônica seja tão pouco falada, tão pouco apreciada, sendo um gênero tão rico e tão gostoso de se ler. Quase sempre são textos leves, curtos e com um toque inteligente de humor. 


As Cem Melhores Crônicas Brasileiras é uma coletânea organizada por Joaquim Ferreira dos Santos e reúne textos de diversos escritores brasileiros desde meados do século XIX até a década de 2000. Nesse período de tempo, são várias gerações e modos de vida representados por esses escritores que registravam o dia-a-dia, da sociedade ou de suas próprias famílias. Justamente por isso, a variedade de assuntos das crônicas que fazem parte do livro é muito grande.

Uma teoria sobre como surgiu a crônica; o incômodo de uma calçada mal conservada; um mendigo diferente de todos os outros; os novos hábitos na moda entre as garotas; o sonho de criação de um escritor; a vinda secreta de uma estrela de cinema ao Brasil;  nostalgia pelos tempos antigos; um aniversário comemorado da maneira mais simples possível; a estranheza de mascar um chiclete pela primeira vez; um detetive sem grana nenhuma; Papai Noel pego no flagra, porém não da forma que se espera; o inconformismo com o envelhecimento; a morte de um animal de estimação querido; a vida e os amores de uma mulher. Esses são apenas alguns dos temas centrais abordados nas crônicas e foram os que mais me chamaram a atenção. Entretanto, o livro contém muito mais… É também grande o leque de autores selecionados: desde escritores consagrados da literatura clássica brasileira, como Machado de Assis e José de Alencar até nomes atuais do gênero, como Arnaldo Jabor, passando por alguns mestres da crônica, como Rubem Braga e Clarice Lispector.


O livro está organizado em blocos temporários, isto é: as crônicas foram divididas de acordo com a época em que foram escritas e cada parte do livro contempla determinado período de tempo, constituído por uma ou mais décadas. Dessa forma, as crônicas escolhidas para compor a antologia foram colocadas em ordem cronológica, o que nos permite observar uma evolução nos textos no que diz respeito à estrutura, linguagem, efeitos de sentido e outras modificações sofridas com o tempo.

É difícil classificar a linguagem do livro e afirmar se é formal, coloquial ou regional; se é fácil ou difícil de compreender. Porque, afinal, estamos falando de vários textos escritos ao longo de 150 anos por pessoas diferentes. Algumas das primeiras crônicas podem exigir mais atenção do que as posteriores, pelo fato de usarem linguagem bastante formal; outras contém vários termos em outras línguas, principalmente o inglês e o francês.

A crônica Antigamente, de Carlos Drummond de Andrade só utiliza palavras e expressões antigas, que talvez você só entenda depois de perguntar aos seus avós; já outras mais contemporâneas, como as de Antonio Prata, usam termos e expressões bastante atuais, incluindo algumas gírias.

Muitas das crônicas presentes na antologia são extremamente engraçadas. Entre elas, destaco: Aula de Inglês de Rubem Braga. Outras são bastante poéticas, como A última crônica de Fernando Sabino.

Grande parte das crônicas são agradáveis de ler, seja pelo tom cômico, irônico, crítico ou poético. Muitas vezes me peguei dando gargalhadas em pleno ônibus lotado ou me surpreendendo e emocionando quando compreendia a intenção do autor. Sem sombra de dúvidas, é um livro maravilhoso para apreciação do gênero narrativo. 

Tenho apenas duas críticas quanto ao livro. Em primeiro lugar, sobre a falta de textos escritos por mulheres. Apenas seis dos autores contemplados são mulheres: Rachel de Queiroz, Elsie Lessa, Clarice Lispetor, Lygia Fagundes Telles, Danuza Leão e Martha Medeiros e das cem crônicas escolhidas, somente dez pertencem a elas. Tenho certeza de que muito mais mulheres brasileiras escreveram e escrevem boas crônicas e essa falta de representatividade me incomodou muito. 


O outro aspecto negativo é a grande quantidade de machismo revelado em alguns dos textos. Objetificação da mulher, incentivo ao assédio sexual e restrição à liberdade feminina foram alguns aspectos que pude observar. Me senti muito desconfortável enquanto lia Minhas bunda, de Mario Prata, que reduz as mulheres a uma parte de seus corpos. Acredito que crônicas com conteúdo como esse poderiam ter sido dispensadas da seleção e substituídas por outras não desrespeitosas e com mais qualidade.

Esses dois fatores me decepcionaram um pouco, mas não deixo de afirmar que é um livro maravilhoso. Recomendo muito para quem já conhece, gosta do gênero e também para quem tem vontade de conhecer.


Um pouco sobre o organizador: Joaquim Ferreira dos Santos nasceu no Rio de Janeiro em 19 de agosto de 1950 e é um jornalista e escritor brasileiro. Como repórter de cultura e comportamento, trabalhou nas redações do Diário de Notícias, Veja, Jornal do Brasil, O Dia e O Globo. Atualmente é colunista do Jornal O Globo para onde escreve semanalmente às segundas-feiras. Alguns de seus livros publicados são: 
    • Feliz 1958, O Ano Que Não Devia Acabar
    • O que as mulheres procuram na bolsa
    • Em busca do borogodó perdido
    • As cem melhores crônicas brasileiras
    • Leila Diniz: Uma Revolução na Praia
    • Minhas amigas: retratos afetivos
    • Enquanto houver champanhe, há esperança - Uma biografia de Zózimo Barroso do Amaral
    • Rua do Lavradio
    • Boa Companhia — Crônicas
    • Zona Norte, Território da Alma Carioca
    • Brasil, Mostra Sua Máscara
    • O Melhor do Humor Brasileiro
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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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