Abuso – A Cultura do Estupro no Brasil (Ana Paula Araújo)

sexta-feira, 26 de março de 2021

Ficha Técnica: 
Nome original: Abuso – A Cultura do Estupro no Brasil
Autor: Ana Paula Araújo
País de Origem: Brasil
Número de Páginas: 320
Ano de Lançamento: 2020
ISBN-13: 9786586047257
Editora: Globo Livros 

Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 18º livro lido em 2021 e foi Abuso – A Cultura do Estupro no Brasil (Ana Paula Araújo). Quando começaram as divulgações sobre o livro já fiquei interessada na leitura, mas achei melhor esperar um bom momento para ler, visto que só pelo nome já entendi que se trataria de uma leitura difícil e pesada. 

O livro traz o estupro como o fio condutor de uma narrativa não ficcional que esmiúça esse crime em suas mais variadas esferas e espaços, expondo uma violência que tem como maior alvo as mulheres em diferentes idades, classes sociais e níveis de informação. Com um olhar jornalístico e extremamente humano, a jornalista Ana Paula Araújo compartilha com o leitor uma pesquisa intensa de mais de quatro anos entrevistando vítimas e estupradores, bem como imergindo na lei para trazer um panorama abrangente de como esse crime que traumatiza, envergonha e põe em risco toda uma trajetória que poderia ser diferente caso isso não tivesse acontecido, deve ser combatido com leis mais severas, bem como mostrar uma sociedade que ainda culpabiliza as vítimas por questões machistas e retrógradas.

O livro traz dados alarmantes sobre o crime no nosso país. Segundo os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), há um estupro a cada 11 minutos e, na maioria das vezes, as vítimas são mulheres. No entanto, estima-se que apenas 10% dos casos são denunciados, já que as vítimas, normalmente, se sentem coagidas, com medo ou até mesmo culpadas pelo crime. Além de muitas vítimas não relatarem os casos às autoridades, as que conseguem forças para denunciar precisam enfrentar um processo doloroso, desde os exames até o preconceito de médicos, policiais, parentes e amigos. A cultura do estupro, inclusive, é o ponto de maior destaque do livro.

O termo “cultura do estupro” tem sido usado desde os anos 1970, época da chamada segunda onda feminista, para apontar comportamentos sutis ou explícitos que silenciam ou relativizam a violência sexual contra a mulher. A palavra “cultura” no termo “cultura do estupro” reforça a ideia de que esses comportamentos não podem ser interpretados como normais ou naturais. Se é cultural, nós criamos. Se nós criamos, podemos mudá-los. Atitudes como culpar a vítima ou absolver o criminoso apenas por ser homem e ter um desejo sexual mais intenso que o da mulher, reforçam e naturalizam comportamentos violentos, o que leva a vítima a não denunciar e o estuprador segue cometendo o delito, em um ciclo de violência sem fim.

Essa violência está em todos os lugares, a qualquer hora e alcança todo tipo de vítima, as mulheres são o maior alvo e o estupro pode e é cometido por todo e qualquer tipo de pessoa. Está dentro de casa, no trabalho, na rua ao meio dia ou à meia noite, nas universidades e escolas, nas igrejas e é cometido por qualquer pessoa, mas estatisticamente é o homem que mais comete o delito. O livro traz depoimentos de mães que tiveram suas filhas violentadas pelos próprios pais ou companheiros, além de mulheres que contaram sua história de violência ocorrida em diferentes estágios de suas vidas. Adolescentes, mulheres e idosas foram as vítimas, o que quebra o padrão de que algumas pessoas acreditam que apenas a mulher que está sozinha na rua, bêbada, vestida de forma provocativa pode ser vítima, o que por si só, já é algo extremamente preconceituoso.

A jornalista relata também sobre a lei que embora tenha avançado ao longo do tempo, ainda precisa evoluir muito mais. Do momento da denúncia ao encarceramento do estuprador, um caminho longo e duro é percorrido e na maioria das vezes, o acusado responde o processo em liberdade, sendo um perigo eminente para toda a sociedade.

A segurança que todo cidadão sente ao procurar a polícia quando é furtado ou assaltado não existe para as vítimas de estupro. Ao contrário da maioria dos crimes, onde a vítima precisa apenas informar às autoridades o que sofreu e essas autoridades entendem o seu relato como algo legítimo, as vítimas de estupro de início já não são legitimadas.

Como os dados também mostram que a maioria dos agressores são conhecidos das vítimas e usam da força física ou da ameaça como forma de coagi-las, é possível entender por que apenas 10% dos casos são denunciados, como mostra a nota técnica do IPEA. As vítimas enfrentam inúmeras barreiras para levar esses crimes para as autoridades. Nesses espaços em que essas vítimas deveriam ser acolhidas, encontram desconfiança e descrença acerca da violência que sofreram. Dividir parte da culpa de um crime de violência sexual com a própria vítima é atenuar a ação do agressor. Os movimentos que pautam discussões sobre a cultura do estupro querem conscientizar as pessoas de que primeiramente precisamos gerar incentivos para as vítimas de violência sexual reportarem esses crimes para as autoridades, o que não vai acontecer enquanto elas se sentirem julgadas, questionadas e não amparadas pela sociedade e pelas instituições. 

É um livro duro, difícil, repugnante e revoltante, mas extremamente necessário, pois informa e elucida pontos obscuros da lei, além de poder aproximar mulheres que serão mais fortes juntas.

Eu gostei demais!


Um pouco sobre a autora:
Ana Paula Araújo nasceu no Rio de Janeiro, porém, ainda criança, mudou-se para Juiz de Fora – MG. É formada em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e, aos dezoito anos, fez sua estreia no jornalismo como estagiária na Rádio Globo. Após migrar para a televisão e passar pelas bancadas do Bom Dia Rio e do RJTV, ela atualmente apresenta o Bom Dia Brasil e faz parte do rodízio de apresentadores do Jornal Nacional. Em 2011, Ana Paula fez parte da equipe do Jornalismo da Globo que ganhou o prêmio Emmy Internacional pela cobertura da ocupação do Complexo do Alemão no ano anterior, quando ficou por oito horas ininterruptas no ar. Abuso é seu livro de estreia.
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Comentários
1 Comentários

Um comentário :

  1. Oi Ivi.

    Eu vi o lançamento este livro, mas a sua resenha é a primeira que eu estou lendo e pela sua opinião é uma leitura difícil. Com certeza é um livro duro de ler mas, acho necessário para quem tem coragem de encarar as páginas dele. Vou adicionar na minha lista porque quero conhecer a escrita e os pensamentos da jornalista neste assunto.

    Bjos
    https://consumidoradehistorias.blogspot.com/

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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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