Os Miseráveis (Victor Hugo)

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Ficha Técnica:
Nome Original: Lés Miserables
Autor: Victor Hugo
País de Origem: França
Tradução: Regina Célia de Oliveira
Número de Páginas: 1512
Ano de Lançamento: 1862
ISBN-13: 9788544000007
Editora: Martin Claret

Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 47º livro lido em 2020 e foi Os Miseráveis (Victor Hugo). Eu quero ler este livro há muito tempo, mas nunca tive a oportunidade em função de não tê-lo e também pelo livro ser muito caro, até que me permiti gastar uma pequena fortuna nessa edição linda e me aventurar nesta história.

O livro nos traz Jean Valjean um homem que rouba um pedaço de pão levado pelo desespero e por isso foi condenado a trabalho forçado nas galés (que podemos entender como uma penitenciária) e teve que cumprir uma sentença de dezenove anos por causa de inúmeras tentativas de fuga. Quando termina sua pena e é colocado em liberdade, percebe que a condição de ex-prisioneiro nunca o abandonará e decide mudar de nome. É então que conhece Fantine, uma mulher que também teve uma vida difícil, tendo que deixar sua filha, Cosette aos cuidados de estranhos. Antes que Jean possa ajudá-las, o inspetor Javert se coloca no encalço dele, determinado a levá-lo a justiça por novos delitos. Anos depois, a vida destes personagens se cruza com o jovem Marius, um estudante engajado com a Revolução de 1832. 


A primeira observação que faço antes de entrar propriamente na resenha do livro é que esse resumo do parágrafo anterior é relativamente pobre se pensarmos na profundidade desta trama, bem como em todas as camadas que este enredo nos traz.

O primeiro fator que chama a atenção é como a narrativa do autor é fluida e envolvente, não dá a menor impressão de ser um livro publicado há mais de cento e cinquenta anos. Assim, mesmo que o início do livro demore cerca de cem páginas para realmente engrenar, o leitor não sente essas páginas pesarem, ainda mais por apresentarem um personagens interessantíssimos.
“O que é essa história de Fantine? É a sociedade comprando uma escrava. De quem? Da miséria. Da fome, do frio, do isolamento, do abandono, da privação. Dolorosa negociação. Uma alma por um pedaço de pão. A miséria oferece, a sociedade aceita. [...]. Dizem que a escravidão desapareceu da civilização europeia: é um erro. Existe ainda, mas não pesa senão sobre a mulher, e chama-se prostituição.” (página 229)
Quando Hugo começa a desenvolver o plote principal da história, a aventura se torna intensa e frenética, com paradas estratégicas para nos dar um panorama da sociedade da época, bem como do cenário político que a França atravessava. O autor faz uma reflexão sobre a miséria sem poupar o leitor, mostrando como os mais diversos personagens perdem sua humanidade pouco a pouco. A partir do momento em que se é ignorado socialmente e as necessidades mais básicas não são atendidas, o ser humano regride aos seus impulsos mais selvagens. E quem pode julgá-lo? É com uma narrativa sutil e tocante que somos apresentados a um quadro doloroso, sendo impossível não sentir um aperto no coração vendo dramas tão intensos e injustos. 


O ponto alto do livro certamente é a crítica social contundente que acompanhamos ao longo da jornada dos personagens, expondo diversas feridas de nossa sociedade como a pobreza, a criminalidade, a injustiça, o abuso infantil, a prostituição e a forma como tratamos pessoas menos favorecidas. Apesar do autor não dar nenhuma lição de moral, a trama é tão forte e impactante que equivale a uma sucessão de “tapas na cara”. Ao mesmo tempo em que emociona, Os Miseráveis também causa desconforto por revelar uma realidade amarga para a qual fechamos os olhos muitas vezes. 

A construção dos personagens também merece destaque. É impressionante como o autor consegue criar personagens tão reais e vívidos, de modo que o leitor entende suas motivações e ações. Protagonista e antagonista nas pessoas de Jean e Javert são os que mais me deixaram satisfeitas com seus desenvolvimentos. Conseguimos ver as nuances entre o herói e o vilão, sendo que nem um e nem o outro podem ser definidos por estes rótulos. Jean não é perfeito e Javert não é o demônio.
“De sofrimento em sofrimento, chegou, pouco a pouco, à convicção de que a vida é uma guerra; guerra em que o vencido era ele. A única arma que possuía era seu ódio. Resolveu afiá-la na prisão e levá-la consigo quando fosse embora.” (página 129)
Um ponto que pode incomodar muitos leitores são as chamadas digressões do autor para explicar determinadas coisas que não estão ligadas diretamente a história dos personagens. Existem capítulos imensos para explicar batalhar e condições políticas que podem cansar o leitor mais afoito por aventura e ação. 

O livro é imenso e essa talvez seja a maior característica que afaste os leitores. O fato de ser um clássico universal também é algo que muitos leitores não simpatizam, porém, a leitura é avassaladora em muitos aspectos e ainda que a história possa te consumir dias e até semanas, te garanto que a experiência será grandiosa. Temos uma história rica que traz uma discussão importantíssima sobre consciência de classe.

Enfim, é um livro que vale a pena cada uma das 1512 páginas que esta edição possui. 

Eu amei!!!


Um pouco sobre o autor: Poeta, dramaturgo e romancista, Victor Hugo é um dos mais importantes escritores franceses do período romântico. Terceiro filho de um major que, mais tarde, se tornaria general do exército napoleônico, Victor Hugo passou a sua infância entre Paris, Nápoles e Madrid. Em 1821, ano do seu casamento com uma amiga de infância, Adèle Foucher, publicou o seu primeiro livro de poemas, com o qual ganhou uma pensão, concedida por Louis XVIII. Um ano mais tarde publicaria o seu primeiro romance. Alguns de seus livros publicados no Brasil são:
    • Os Trabalhadores do Mar
    • Os Miseráveis
    • O Corcunda de Notre Dame
    • Noventa e Três
    • A Lenda do Belo Pecopin e da Bela Bauldour
    • Almas Crucificadas
    • O Homem Que Ri
    • O último dia de um condenado à morte
    • Conversando Com a Eternidade
    • Do Grotesco e do Sublime
    • O Solar de Apolo
    • Na Sombra e na Luz
    • Redenção
    • O Ogro da Rússia
    • Dor Suprema
Comentários
11 Comentários

11 comentários :

  1. Olá, tudo bem? Eu tenho bastante curiosidade de ler esse livro, mas confesso que o tamanho me assusta, hahaha. Adoreia resenha e as fotos!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  2. Oii!!

    Uau, que legal ler sobre essa obra nos dias de hoje. Eu confesso que clássicos não são minha praia, mas normalmente é o problema é a escrita que acaba sendo rebuscada demais e acaba me afastando.

    É engraçado e triste que algumas criticas em livros tão antigos ainda caibam nos dias de hoje né?

    Gostei da resenha.

    Beijinhos,
    Ani
    www.entrechocolatesemusicas.com.br

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  3. Ai que inveja de ler esse livrão, ta um clássico que quero ler, mas ao mesmo tempo morro de preguiça confesso hahaha e essa edição é maravilhosa....
    https://quemevcbrubs.blogspot.com/

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  4. Já li esse livro, mas não lembro mais de seus detalhes, só lembro que na época amei a leitura. Lendo sua resenha me despertou a vontade de reler ele, embora seja um calhamaço de respeito.

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  5. Olá, tudo bem? Realmente para mim, em Os Miseráveis existem dois obstáculos: o número de páginas e o fato de ser um clássico. Enfim, ainda espero em uma férias da vida conseguir pegar ele para ler, porque posso ver que será uma experiência única. A edição é realmente linda né?! Fico babando nela haha Adorei a sua resenha!
    Beijos

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  6. Oizinho, tudo bem? O tamanho do livro realmente assusta, mas penso eu que não é uma leitura de ler de uma vez assim, tendo que absorver tudo que é falado. É ler aos poucos mesmo, até chegar ao final. Eu conheço o livro, por ser um clássico, e tenho muita vontade de ler. Beijos!

    www.livroapaixonado.com.br

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  7. Oi, tudo bem? Olha admiro quem lê obras assim tão gigantes. Acredito que nunca li nada parecido. O máximo que consegui foram 600 páginas mas era um thriller então quando piscamos os olhos o livro já acabou. Bem diferente desse que traz tantos temas delicados como crítica social e miséria. É preciso ler absorvendo pedacinho. Quem sabe um dia tente novamente. Um abraço, Érika =^.^=

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  8. Olha, confesso que o livro me deixa "com um pé atrás" pela quantidade de páginas apresentadas, mas sempre que vejo alguma resenha, me chama atenção, assim como a sua. Fiquei realmente intrigada para conhecer mais sobre a obra, principalmente por saber das críticas sociais que o livro apresenta. Quem sabe, um dia, eu dê uma chance e me conquiste tanto assim!

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  9. Eu acho essa edição da Martins Claret de uma riqueza sem tamanho, é linda demais! Queria ter coragem de ler mas o tamanho acaba me assustando, sabe? Espero tomar coragem porque parece ser incrível.

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  10. Olá Ivi, tudo bom?
    AAA, fico tão feliz em saber que gostou desse livro, que é um dos meus favoritos da vida ♥ Concordo plenamente com tudo o que disse. A construção dos personagens, a crítica social, a forma como Victor Hugo consegue levar o enredo, tudo é incrível ♥ Em relação as digressões, elas realmente podem ser um problema para muita gente (por 'saírem' da história e por serem extensas), mas eu, como a pessoa estranha que sou, achei bem interessante kkk
    Sua resenha ficou incrível ♥
    Beijos!

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  11. Comecei uma leitura coletiva da obra, mas não consegui acompanhar. Irei fazer um projeto solo da obra, ano que vem e irei tentar ler de janeiro até maio. Preciso ler esse livro, sinto que estou perdendo uma leitura e tanto, pois o pouco que li, já me deixou fascinado.

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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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