Amanhã, Amanhã e Outro Amanhã (Gabrielle Zevin)

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Ficha Técnica:

Nome Original: Tomorrow, and Tomorrow, and Tomorrow
Autor: Gabrielle Zevin
Tradução: Carol Christo
País de Origem: Estados Unidos 
Número de Páginas: 400
Ano de Lançamento: 2022
ISBN: 978-6555322873
Editora: Rocco
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Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 32º livro lido em 2023 e foi Amanhã, Amanhã e Outro Amanhã (Gabrielle Zevin). Depois de ver muitas pessoas de confiança elogiando o livro, eu tinha que ter a minha opinião sobre a obra e lá fui conhecer a trama.

O livro traz a história de amizade cheia de altos e baixos de Sam e Sadie desde os 12 e 11 anos até a os 35 e 36, aproximadamente. Eles se conhecem no hospital, especificamente na sala de videogames e o amor em comum pelos jogos é a faísca para uma amizade profunda. Um mal-entendido leva ao afastamento dos dois, mas eles se reencontram novamente na faculdade e resolvem criar um jogo juntos. Quem apoia a empreitada é Marx, colega de quarto de Sam, que cede o apartamento em que moram para que a dupla possa passar dias e noites a fio criando, enquanto Marx auxilia com tudo que eles precisam para a continuidade do trabalho. O resultado é Ichigo, um jogo que alavanca suas carreiras e vira um sucesso instantâneo, levando a dupla ao estrelato e possibilitando não apenas uma mudança financeira substancial, como também a criação da Jogo Sujo, a empresa de games fundada com Marx. Trabalhar com seu melhor amigo pode também ser uma armadilha perigosa para ressentimentos, mágoas, divergências e outros tantos sentimentos difíceis de lidar – nenhum deles é poupado pela autora que traz uma amizade honesta, mas também cheia de conflitos.

Eu nunca gostei de videogames, por isso cheguei a imaginar que o enredo não funcionaria plenamente para mim. O livro traz esse cenário com detalhes que vão do designer ao código fonte dos jogos e ainda assim, eu mergulhei na história e fiquei viciada em cada fase da vida dos protagonistas, tal quem se vicia em um jogo e não consegue ter paz enquanto não o finaliza. 

Sam e Sadie se amam, mas são cheios de defeitos. Sam tem a autoestima muito abalada por ser um garoto com deficiência, o que o torna muito fechado e inacessível. Ele não se coloca numa posição de vulnerabilidade nem com seus melhores amigos, e enquanto Marx consegue levar isso numa boa, Sadie fica um pouco magoada por não saber se os sentimentos de amor e amizade dele são recíprocos. Além disso, por mais que finja que não, Sam usufrui dos benefícios do machismo para brilhar, enquanto sua parceira é colocada para escanteio. A sementinha do ressentimento que faz com que Sadie crie um verdadeiro rancor em relação a Sam vem dessa dinâmica de poder: Sadie é uma mulher num mercado majoritariamente masculino em 1996, ou seja, o espaço dado a ela é minúsculo e ela precisa abrir seu caminho com um facão. É claro que Sam se tornar a cara da Jogo Sujo e deixá-la de lado piora essa situação. Existem outros motivos por trás de sua mágoa, mas não vou aprofundá-los aqui porque acho importante descobrir essas camadas durante a leitura. É importante saber que Sadie representa aquelas pessoas que veem seu trabalho ser atrelado a todo mundo, menos a elas, e é esmagada pelo peso da frustração em relação a isso. Não são sentimentos bonitos, mas são reais e fáceis de se identificar.

Marx é a cola que mantém o grupo unido. Leve, sensato, altruísta e compreensivo, ele é o produtor da Jogo Sujo, mas seu papel vai muito além disso: ele sabe das dificuldades de Sam e faz de tudo para melhorá-las sem que o amigo precise pedir; ameniza as brigas entre Sam e Sadie, mostrando a ambos – de forma separada - que um faria absolutamente tudo pelo outro; tem uma visão de negócios afiada tanto para administrar a Jogo Sujo quanto para encontrar novos talentos para a equipe. Eu poderia ficar horas falando sobre as muitas qualidades de Marx, mas para ser sincera e imparcial, ele é perfeito demais e como os próprios personagens que o conhecem afirmam, é realmente impossível não gostar de Marx. Eu me apaixonei por toda a sua trajetória e me emocionei com todos os aspectos que envolvem o plote focado nele.

Gabrielle Zevin também acerta ao trazer temas universais e importantes para a trama com naturalidade. Ela aborda a deficiência física de modo ambientado e contextualizado, demonstra relações abusivas por meio de Sadie e sua dependência emocional em relação ao sexo oposto, cita o perigo do acesso às armas e as consequências letais dessa política, assim como os relacionamentos homoafetivos e a injustiça envolvendo a impossibilidade de casamentos entre pessoas do mesmo sexo no passado, também aborda depressão e saúde mental, entre outras questões. Mesmo que pareçam muitos temas a serem abordados, são pequenas partes do enredo ou características dos personagens, em nenhum momento a história força para um ou outro assunto, ao mesmo tempo em que trata de todos eles de forma verossímil e séria.

Algo que não funcionou muito bem para mim foi que a relação de Sam e Sadie estava desgastada de uma forma quase irreversível e as páginas finais fazem com que a reaproximação dos dois seja afetuosa demais – especialmente quando consideramos quanto tempo Sadie passou renegando qualquer contato com Sam. Ainda assim, é possível tirar uma lição bonita desse final apressado, já que ele é essencialmente otimista e mostra como o tempo pode ter realmente um poder de cura muito valioso.

Amanhã, Amanhã, E Ainda Outro Amanhã começou como um livro que eu estava ansiosa para ler, mas com medo da temática central não me envolver e se transformou numa obra que me levou às lágrimas, mexeu com meu coração, me fez sentir a dor dos personagens, sentir identificação com suas frustrações e tirou o meu sono, de tanto que fiquei pensativa após sua conclusão. É um livro que usa o universo dos jogos para levantar questões sobre a imprevisibilidade da vida, as mudanças de percurso e a força de recomeçar. Ainda que não tenhamos vidas infinitas como os personagens dos jogos, de certa forma cada dia é uma nova oportunidade de dar o play e fazer o nosso melhor. Por isso e por muito mais, essa leitura se tornou muito especial para mim.


Um pouco sobre a autora:
Gabrielle Zevin é autora de livros premiados para jovens adultos. Ela também é roteirista indicada para muitas premiações importantes do meio. Ela também é amante de cachorros e graduada em Harvard, atualmente mora na cidade de Nova York.

Seus livros publicados no Brasil:
  • Amanhã, Amanhã, e Ainda Outro Amanhã
  • Em Outro Lugar
  • Todas as Coisas que Eu Já Fiz
  • Está no Meu Sangue
  • Na Era do Amor e do Chocolate
  • A Vida do Livreiro A. J. Fikry
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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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