Nome Original: Let's Go Play at the Adams
Autora: Mendal W. Johnson
Tradução: Carmem Ballot
País de Origem: Estados Unidos
Número de Páginas: 277
Ano de Lançamento: 1974
ISBN13: 9780553141399
Editora: Círculo do Livro
Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 89º livro lido em 2022 e foi Quando os Adams saíram de Férias (Mendal W. Johnson). Apesar desse livro ser antigo e não mais publicado no Brasil, eu ainda não o conhecia até ver uma resenha dele no canal do Lucas Barros e ele dizer que era o livro mais violento que ele já tinha lido. Por essa descrição, decidi que esse seria o meu terceiro livro na TBR de terror e horror do mês de outubro.
O livro nos traz a Barbara, uma jovem de vinte anos contratada para cuidar de Bobby e Cindy Adams, enquanto os pais vão passar uma semana de férias fora de casa. Ela parece ter tudo sob controle e se dar muito bem com as crianças, até que acorda, amarrada e amordaçada na cama onde estava dormindo.
No começo, Barbara tem certeza que aquilo é uma brincadeira e só demonstra irritação, até que três amigos das crianças que vivem na vizinhança – Diane, Paul e Johnny – aparecem. Fica claro que as crianças não têm nenhuma intenção de soltar Barbara e que aquilo é um jogo para eles.
Este livro se passa em um período bem curto de tempo – a semana em que os pais de Bobby e Cindy estão viajando – mas é bem intenso. Começamos acompanhado Barbara, a típica jovem americana, loira, bonita, inteligente e bem-comportada, que aceita cuidar de Bobby e Cindy. No começo, os pensamentos de Barbara giram em torno de assuntos bobinhos, que fazem sentido na vida de uma moça de vinte anos, como namorados, casamento, faculdade e amigos.
Quando Diane, Paul e Johnny, adolescentes da vizinhança aparecem na casa e Barbara escuta os cinco discutindo no andar de baixo, ela percebe que a situação não é tão inocente quanto ela pensou. O grupo de crianças e adolescentes planejaram prender Barbara apenas para se divertir, como eventualmente faziam entre eles.
Ao mesmo tempo em que lemos o livro do ponto de vista de Barbara, também o lemos do ponto de vista de cada uma das crianças. Dessa forma, o leitor tem a visão da vítima e dos agressores e mais que isso, logo percebe que cada uma das crianças tem um objetivo diferente ao prender a babá.
Depois que eles conseguem prender Barbara, a ideia de soltá-la logo em seguida parece estúpida, uma vez que ela pode contar o que aconteceu para alguém. Ao mesmo tempo, as crianças sabem que terão problemas do mesmo jeito quando os pais chegarem e descobrirem o que eles fizeram. O livro se torna mais sinistro, as crianças percebem que não podem soltá-la e além disso, têm a babá – antes a figura de autoridade – na sua dependência.
Aos poucos, o que começou como um joguinho aparentemente inocente, se torna uma maneira das crianças realizarem suas fantasias, cada vez mais sádicas. Nesse momento, cada um dos agressores começa a mostrar a sua personalidade e o real motivo pelo qual eles prenderam a babá.
Este livro é livremente inspirado no caso de Sylvia Likens e tem de fato muitas semelhanças com o caso real. Likens, deixada pelos pais com uma mulher enquanto eles trabalhavam em outra cidade, foi presa em um porão, torturada, abusada sexualmente e eventualmente morta, não só pela mulher responsável por cuidar dela, como também pelos filhos dela e por outros garotos da vizinhança.
Assim como o caso, o livro é chocante e perturbador. As crianças, pouco a pouco se tornam predadores e percebendo que podem fazer o que quiserem com Barbara, se tornam cada vez mais cruéis.
O livro traz à tona uma questão muito interessante, que é o que cada pessoa é capaz de fazer quando tem o total e completo poder sob outra. Quando os Adams Saíram de Férias leva isso para outro nível, uma vez que usa crianças como os agressores e essas crianças tratam o que estão fazendo com Barbara como uma experiência comum.
Barbara passa da figura de autoridade da casa para um brinquedo, que pode ser manuseado ao bel prazer das crianças e é chocante perceber tudo que as crianças são capazes, mas mais chocante ainda é notar que algumas das coisas que eles fazem parecem ser feitas sem maldade, quase como experiências mesmo. Essa impressão se intensifica por também lermos a história do ponto de vista de cada criança e sabermos o que e como eles pensam.
O livro tem ideias bem modernas, se pensarmos na época em que foi escrito. Barbara é uma personagem bem típica, normalmente colocada como vítima e é exatamente isso que acontece aqui. No entanto, ela tem seus momentos fortes, como quando pensa como pode se livrar da sua prisão e de maneira pensada, resolve usar uma técnica diferente com cada uma das crianças. Com Johnny e Paul, garotos adolescentes, ela apela para a sensualidade, perguntando sobre namoradas e sendo a mais sedutora possível. Já com Diane, uma adolescente de dezessete anos, apela para a sororidade e com frequência repete “você também é mulher, Diane”. Essa ideia de usar o aspecto feminino para convencer Diane soa bem moderno e bem próximo dos dias de hoje.
Embora tenha momentos mais parados, Quando os Adams Saíram de Férias se torna mais sinistro e mais perturbador com o tempo, o que pode incomodar muitos leitores. A obra, no entanto, não é bem um livro de terror, mas sim um suspense que investiga a alma humana e o quanto ela pode ser cruel.
A leitura é rápida e simples, mas o conteúdo é pesado, o que pode dificultar a leitura para quem é mais sensível. No entanto, como a trama é interessante e o autor consegue deixar o leitor aflito, a vontade de ler para descobrir o que acontecerá com Barbara aumenta com o tempo.
É intenso e perturbador, mas tenho certeza que foi uma excelente escolha para o mês de outubro.
Um pouco sobre o autor: Mendal W. Johnson frequentou a Universidade de Miami e passou parte de sua carreira como jornalista. Mais tarde, ele se afiliou à Marinha Mercante dos Estados Unidos e trabalhou como consultor de banco. Johnson foi casado duas vezes, primeiro com Joan Betts e depois com Ellen Argo, com quem compartilhava o amor pela vela. Quando os Adams saíram de Férias é o seu único livro publicado no Brasil.