A Tenda Vermelha (Anita Diamant)

segunda-feira, 22 de abril de 2019

FICHA TÉCNICA
Nome original: The Red Tent 
Autora: Anita Diamant
Tradução: Rui Gabriel Viana Pereira e Paulo Guimarães Pedro
País de origem: Estados Unidos
Número de páginas: 304
Ano de Lançamento: 2001
ISBN-13: ISBN: 0008599296086
Editora: Arqueiro

Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 23º livro lido em 2019 e foi A Tenda Vermelha (Anita Diamant). O livro estava parado na estante há um tempo até que um amigo me indicou dizendo que a leitura seria interessante e eu decidi aceitar a indicação. Sabendo muito pouco do enredo, mas curiosa pela premissa, decidi ler.

O livro nos traz a história de Dinah, a única filha de Jacó, o popular personagem bíblico que teve doze filhos e apenas uma menina. Na narrativa bíblica, Dinah é citada apenas uma vez quando nos é contado que ela foi violentada por um príncipe e seus irmãos mataram o estuprador. Nada mais é falado e este livro aqui vem nos trazer Dinah como protagonista e nos contar sua versão da história.

O enredo começa com Dinah nos contando como sua mãe conheceu Jacó. Após fugir de seu irmão Esaú, Jacó partiu para as terras de Labão onde primeiramente conheceu Raquel porque quem se apaixonou perdidamente, mas como ela não era a filha mais velha e a tradição judaica exigia que a filha mais velha casasse primeiro, Jacó casou com Lia, mãe de Dinah, com quem teve alguns filhos.  Jacó ainda teve mais 3 esposas e todas conviviam pacificamente. Como Dinah era a única menina, era levada junto com a mãe e as outras esposas de Jacó para as funções femininas do clã, como por exemplo, os partos. 

Na aldeia em que viviam existia a chamada Tenda Vermelha onde as mulheres ficavam durante o período menstrual e pós-parto e trocavam confidências sobre suas vidas. Um outro detalhe interessante é que pela monoteísta religião de Jacó, as pessoas não podiam adorar outros deuses, coisa que faziam as escondidas dentro da Tenda Vermelha. Como a religião do marido era patriarcal e extremamente machista, era lá que as mulheres podiam celebrar a própria feminilidade e sua força, bem como tentarem entender a beleza da fertilidade, do sexo e aceitar que isso não era vergonhoso e que juntas podiam se orgulhar de serem mulheres.

Dentro da Tenda Vermelha as mulheres tentavam manter seus costumes e compartilhavam seu conhecimento, principalmente no que dizia respeito ao trabalho de parto. As parteiras eram muito respeitadas e amadas porque afinal sabiam como trazer uma vida ao mundo. O parto era quase ritualístico, feito entre cantos e orações porque em uma época sem muitos recursos, a devoção fazia a diferença. No livro temos descrições de partos difíceis onde crianças nasciam invertidas ou com o cordão umbilical enrolado no pescoço em que a morte era uma possibilidade real junto ao nascimento. Mesmo Raquel sofreu alguns abortos, tendo o sonho de se tornar mãe frustrado algumas vezes, gerando uma tristeza grande não apenas para ela, mas também para Jacó, que sempre a amou intensamente.

A descendência de Dinah é famosa. Seu pai é o último patriarca do povo judeu, seu irmão José é conhecido por ter sido vendido aos egípcios pelos irmãos, porém, a ausência de fatos sobre Dinah deu a autora do livro a liberdade de construir toda uma história para ela, com conflitos, derrotas e frustrações. 

A princípio, Dinah tem uma visão romantizada dos homens ao seu redor. Eles são fisicamente fortes, possuem autoridade diante das mulheres e decidem o que deve ser feito o tempo todo. Mas essa visão começa a ser desconstruída, não apenas pelo que Dinah ouve dentro da Tenda Vermelha, mas pelo que vê e tem que aguentar na própria vida. 

Na narrativa bíblica Dinah é citada apenas quando é violentada e isso é trazido para a ficção que a autora criou de uma outra forma, com consequências que jamais poderíamos imaginar. Ela desenvolve todo um plote sobre apenas uma citação e a história ganha outra perspectiva.

Eu li o livro como ficção, assim como também encaro a bíblia e sob esta interpretação, a história é forte e muito envolvente. A tradição judaica é referenciada na história com muito respeito, ainda que vários pontos sejam discretamente questionados. Temos uma história linear, com começo, meio e fim, cronologicamente narrados, nos trazendo a saga de uma mulher que apesar de viver à sombra, tinha sentimentos fortes que fizeram com que ela tomasse as rédeas da própria história e tentasse, mesmo com muito sofrimento, ter a voz ouvida quando dissesse sim ou não.

Gostei demais da escrita da autora e pretendo ler outras obras dela, mesmo que após uma breve pesquisa, eu tenha descoberto que este é o seu único romance. Seus outros trabalhos são de não ficção. Mas a originalidade deste livro me ganhou e quero conferir seu talento em outras histórias.

Eu gostei bastante!


Um pouco sobre a autora: Nascida em Nova Iorque, Anita Diamant é uma premiada jornalista e autora de cinco livros sobre a vida judaica contemporânea. Formou-se em Literatura Comparada pela Universidade de Washington e fez um mestrado em língua inglesa na State University de Nova Iorque. Durante mais de 20 anos como jornalista freelance, escreveu artigos para diversos jornais e revistas, tais como o New England Monthly, o Boston Globe, Parenting e outros. A partir de 1985, ela começou a escrever artigos sobre as práticas judaicas contemporâneas e a comunidade judaica. Seus livros publicados no Brasil são: 
  • A Garota de Boston
  • Dia Após Noite
  • A Tenda Vermelha
Comentários
11 Comentários

11 comentários :

  1. Menina, fiquei um pouco horrorizada com essa coisa de Tenda Vermelha. Fico imaginando que coisa ruim ficar menstruada e ter que ir para um local desses.
    Mas por outro lado é interessante o fato das mulheres compartilharem coisas lá. Histórias. Enfim
    Um livro curioso, criativo, vou procurar para ler, fiquei bem aguçada com ele

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Achei o livro muito gostoso de ler. A autora se vê livre para construir e desconstruir muita coisa a respeito de suas personagens e histórias.

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  4. Olá!

    Eu não conhecia o livro, adorei essa ideia da tenda onde as mulheres poderiam ser elas mesmas e expor os seus gosto e suas preferências.
    Apesar de ter ficado um tanto curiosa a respeito desse tenda, o resto da história do livro em si não me chamou a atenção, o que me faz passar a dica de leitura desse vez.
    Mas fico feliz que você tenha gostado do livro, espero que goste dos outros da autora.

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  5. Oi,Ivi!
    Eu não conhecia esse livro nem a autora, mas como não sou muito conhecedora das histórias bíblicas, a sinopse não me chamaria atenção.
    Achei muito interessante essa construção a autora faz de uma pequena passagem bíblica um livro de mais de 300 páginas.
    Adorei a resenha!
    Bjss

    http://umolhardeestrangeiro.blogspot.com/

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  6. Oi, Ivi.
    Já vi esse livro por aí, mas nunca me interessei em ler.
    Nada contra, só não me animei com a trama.
    Achei legal que você tenha dado uma chance para um livro parado na estante e mais legal ainda que você tenha gostado da escrita da autora. Quem sabe eu não mudo de ideia?!
    Beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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  7. Oi, acho que eu não conhecia esse livro. Achei bem interessante isso de a autora construir toda uma história para a personagem citada na Bíblia, gostei de conhecer um pouco da trama e saber sua opinião.

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  8. Olá!
    Achei interessante a proposta da leitura. Incluir temas e incluir na personagem, mostrar também um pouco da cultura tão diferente. Parece ser uma leitura para refletir.

    Camila de Moraes

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  9. Oi Ivi, tudo bem? Eu não conhecia a obra e pra ser sincera não me interessou muito, mas achei muito bacana esse cuidado da autora em construir uma história para personagem que tem menção na biblia, isso de certo modo mostra a importância que ela tem. Obrigada pela dica valiosa!

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  10. Olá Ivi, tudo bom?
    Acho essa história bíblica bem interessante e adorei saber que temos uma obra que aborda a história de Dinah de uma forma tão interessante. Quero muito conferir como toda a história foi construída com base na história bíblica, essa questão da ampla cultura demonstrada, assim como a questão da tenda vermelha, que parece ser fantástica. Dica mais que anotada! ♥
    Beijos!

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  11. Olá tudo bem?
    Aind anão conhecia esse livro e estou simplesmente fascinada pela criatividade da autora. Pegar uma história já conhecida por um outro livro, livro esse tido como algo real, e dali criar uma nova história que ainda consegue ser fiel aos detalhes da época e a cultura em si não é pra qualquer.
    Gosto demais das histórias bíblicas e fiquei super interessada para conhecer essa.
    Adorei sua resenha também.

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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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