HELENA (Machado de Assis)

sábado, 21 de setembro de 2013

Quem assina a resenha de hoje é a Laís Caparroz.

Antes de começar a falar sobre o livro, falemos um pouco sobre Machado de Assis. Sou amante de suas obras desde muito nova, sendo minha preferência por Dom Casmurro, do qual já falei um pouco aqui. Sempre me encanto com seus livros como se nunca os tivesse lido, mas já li todos, e assim foi com HELENA. O autor presenciou a transição do Romantismo, no qual se enquadra o livro em questão, e o Realismo. Aliás, foi ele quem introduziu esse momento em nossa literatura. Em HELENA, ele traz suas características marcantes, como a força das personagens femininas, as descrições do Rio de Janeiro e a análise psicológica das personagens.
Mas vamos ao livro. HELENA foi publicado em 1876 e é uma obra fácil de ler, com um enredo leve sobre um amor impossível. A história começa com o falecimento do Conselheiro Vale, que deixa filho Estácio e D. Úrsula, sua irmã. Na abertura do testamento, a surpresa: devem acolher a filha bastarda do Conselheiro como se fosse da família, e ela deve ser reconhecida pela lei recebendo direito a herança. A tia de Estácio se irrita de início com tal pedido, mas o moço se encanta com a possibilidade de ter uma irmã. Quem os ajuda nesse momento é Dr. Camargo, amigo da família e pai de Eugênia, noiva de Estácio. Helena, a filha reconhecida, é recebida na casa e vai cativando a todos com muito afeto e simplicidade de atitudes. Tanto Estácio quanto a moça aproveitam muito da companhia um do outro e, sem ter a intenção, vão se envolvendo e nutrindo o amor proibido. O noivado de Estácio com Eugênia vai devagar, o moço se vê encantado por ela quando está longe, mas quando estão juntos percebe sua frivolidade, e sempre vai adiando a proposta de casamento ao pai da moça. Helena, por querer se afastar do objeto de seu amor, que todos pensam ser seu irmão, aceita o firmamento de compromisso com Mendonça, amigo de faculdade de Estácio, que está completamento apaixonado por ela. Padre Melchior é o grande conselheiro de todos, ajudando na solução de todos os dramas do livro. Por imposição da noiva, Estácio é obrigado a viajar com a família dela e se vê longe do convívio da família que tanto preza, mas ao receber a notícia do noivado de Helena, volta antes do tempo para esclarecer o que esta acontecendo sem perceber o ciúme crescendo. Quando retorna a casa, um grande escândalo é descoberto: Helena não era filha do Conselheiro, houve um grande desencadear de acontecimentos quando ela era menina que o fizeram reconhecê-la como filha. O final do livro é doce e casto como é de se esperar desse momento literário, e espero que você leia para descobrir o que acontece.
Resenhar sobre Machado me faz pensar em como era ser escritor naquela época, e como esses livros trazem para nós uma realidade tão diferente e cheia de costumes distantes dos nossos. Gosto de ver nessa obra a entrega das personagens à essa vida pacata, ainda que se passasse na correria da corte. Machado de Assis utiliza em HELENA um tema muito explorado pelos autores românticos da época: a obsessão pelo amor impossível e seu consequente sacrilégio, devido à obediência às leis morais e sociais. Sempre irei sugerir a leitura desse autor, e aqui principalmente essa obra tão gostosa de ler.

Quotes escolhidos: "Helena tinha os predicados próprios a captar a confiança e a afeição da família. Era dócil, afável, inteligente. Não eram estes, contudo, nem ainda a beleza, os seus dotes por excelência eficazes. O que a tornava superior e lhe dava probabilidade de triunfo era a arte de acomodar-se às circunstâncias do momento e a toda a casta de espíritos, arte preciosa, que faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres. (...) Havia nela uma jovialidade da menina e a compostura da mulher feita, um acordo de virtudes e maneiras elegantes. (...) Conversava com graça e lia admiravelmente. Mediante os seus recursos, e muita paciência, arte e resignação - não humilde, mas digna -, conseguia polir os ásperos, atrair os indiferentes e domar os hostis."  página 31

"Lembro-me de ti a propósito de tudo. Hoje de tarde, por exemplo, o terreiro oferecia um aspecto bonito e característico. Se ela estivesse aqui, disse comigo, faria um magnifico desenho. Peguei um lápis que trouxe, meia folha de papel, e quis reproduzir o panorama. Escrevi um problema algébrico! Foi um conselho que me deu o lápis: ninguém se meta a fazer aquilo que ignora." página 110

"O poeta que disse que a saudade é um pungir delicioso, não consultou meu coração". página 182

"O passado é um pecúlio para os que já não esperam nada do presente ou do futuro; há ali sensações vivas que preenchem as lacunas de todo o tempo." página 186


"A princípio foi esse olhar um simples encontro; mas, dentro de alguns instantes, era uma coisa a mais. Era a primeira revelação, tácita, mas consciente, do sentimento que os ligava. Nenhum deles procurara esse contato de suas almas, mas nenhum fugiu. o que eles disseram um ao outro, com os simples olhos, não se escreve em papel, não se pode repetir ao ouvido; confissão misteriosa e secreta, feita de um a outro coração, que só ao céu cabia ouvir, porque não eram vozes da terra, nem para aterra as diziam eles." página 199


Um pouco sobre o autor: Machado de Assis é Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839 e faleceu em, 29 de setembro de 1908. Ele foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época. Seus principais romances publicados são:

  • Ressurreição
  • A mão e a luva
  • Helena
  • Iaiá Garcia
  • Memórias Póstumas de Brás Cubas
  • Casa Velha
  • Quincas Borba
  • Dom Casmurro
  • Esaú e Jacó
  • Memorial de Aires

Comentários
5 Comentários

5 comentários :

  1. Eu adoraria viver naquela época *-* Apesar de preferir ler os contos de Machado de Assis do que os romances, tenho muita vontade de ler Helena!
    Beijos :)

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  2. Admiro Machado de Assis justamente por ele vir com novidades naquela época do Romantismo, vindo com livros em que as mulheres são forte e decididas e ainda com aquele belo romance. Ainda não li Helena. mas desejo muito!

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  3. Tenho que admitir, nunca fui muito fã de clássicos, mas confesso que quando li Dom Casmurro "obrigada" pela escola, me surpreendi... E adorei sua resenha sobre Helena... Quem sabe um dia desses eu não arrisco a leitura??

    XOXO
    umnovo-roteiro.blogspot.com

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  4. Confesso que nunca li essa obra (que eu me lembre).
    Não leio muitos clássicos da literatura Nacional, mas tenho vários na estante e gostaria de lê-los, mas sempre deixo para depois e depois. Tenho que parar com isso e tentar ler um clássico por mÊs :)
    Parabéns pela resenha.

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  5. Helena é perfeito *_* Sou simplesmente apaixonada pelo trabalho de Assis,,, ♥

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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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