Memórias de Uma Gueixa (Arthur Golden)

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

FICHA TÉCNICA

Nome original: Memoirs of a Geisha

Autor: Arthur Golden

Tradução: Lya Luft

País de origem: Estados Unidos

Número de páginas: 460

Ano de Lançamento: 1997

ISBN-13: 9781400096893

Editora: Imago

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Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 75º livro lido em 2020 e foi Memórias de Uma Gueixa (Arthur Golden). Eu queria ler algo diferente, que me levasse para algo distante do meu dia a dia e esse livro foi a escolha ideal para este momento. O exemplar estava na minha estante há muito tempo e a hora de conhecer essa trama chegou.

O livro nos traz a pequena Chiyo, uma garotinha filha de uma humilde família em um vilarejo afastado no interior do Japão. Ela sempre chamou a atenção pela beleza e por ter olhos marcantes que iam do cinza ao azul. Após a morte da mãe, o pai a vendeu com sua irmã e Chiyo vai para Kioto. Ao chegar lá, desperta a ira de Hatsumomo, a principal gueixa da sua casa que em vez de tomá-la como aprendiz faz de tudo para reduzi-la a uma mera criada. Se Chiyo despertou a inveja e o ódio desta gueixa, também desperta amor em Mameha, uma das principais gueixas da cidade. Sob sua orientação, passará por todos os treinamentos e rituais tradicionais de forma que aos 18 anos, ela não seja mais Chiyo e sim Sayuri e já tenha conquistado sua popularidade, sendo alvo do interesse de homens importantes. O livro começa com Sayuri idosa e vivendo nos Estados Unidos, relatando a sua vida e sua transformação de menina inocente de um vilarejo simples a uma das mais requisitadas gueixas de sua época.

O livro é narrado em primeira pessoa em um ritmo nem acelerado nem lento. Gostei especialmente de ver como o autor conseguiu nos fazer acreditar que estávamos ouvindo uma mulher contar sua vida e nos fazendo íntimas de Sayuri, construindo em nossa mente a imagem de uma mulher forte, mas suave.

Embora o cerne do livro seja a cultura das gueixas, o foco não está nas atividades de Sayuri como gueixa. As pessoas importantes que ela conhece, as festas que frequenta ou mesmo o treinamento necessário durante anos para se tornar quem se tornou são importantes dentro da narrativa, mas não o ponto central que está realmente em sua jornada e, principalmente, na maneira como ela se sente diante das situações. Apesar de alcançar o sucesso, sua trajetória é pontuada por momentos infelizes, mas em nenhum momento o relato se torna melodramático, pois a intenção da personagem não é fazer com que o leitor sinta pena dela e sim mostrar como as coisas aconteceram. A vulnerabilidade com que Sayuri se apresenta é o que conquista o leitor.

A tradição milenar das gueixas se revela aos poucos. A maneira como as meninas são compradas ainda jovens e iniciam seus estudos financiados pela okyia (casa de gueixas) a que pertencem, bem cientes de que todos os custos de sua educação e sobrevivência deverão ser pagos a okyia assim que começarem a receber como gueixas. As gueixas são a fonte de renda da okyia e por isso todos os que vivem na casa estão ali para servi-las, cada um fazendo a sua parte para que no momento certo a gueixa saia para fazer o seu trabalho da melhor maneira. Ao contrário do que muitos pensam, gueixas não são prostitutas e a reputação delas fica seriamente abalada caso façam sexo com um cliente. A função é entreter os homens com danças, histórias e servir chá de acordo com a tradição. É por isso que o termo gueixa vem de artesã/artista, sendo de fato considerado uma arte.

Dentre as práticas que podemos conhecer pelos olhos de Sayuri estão a relação de uma gueixa com o seu danna (homem que assume os custos de vida da gueixa, negociando valores com a okyia, a fim de ter direitos sobre ela) e o mizuage (venda da virgindade da aprendiz de gueixa).


 Os personagens secundários ajudam a dar forma a este mundo, como a interesseira Mamãe, que administra a casa onde Sayuri vive, a maldosa Hatsumomo, a gentil Mameha, que se torna sua mentora – na cultura das gueixas chamada de “irmã mais velha”, o bondoso Nobu, bom amigo que anseia em ser seu danna, e o misterioso Presidente, o homem por quem Sayuri se apaixona perdidamente.

Outro ponto interessante é o momento histórico em que a trama se passa, o antes, durante e pós Segunda Guerra Mundial, de forma que podemos vislumbrar o Japão diante da derrota no conflito.

O livro apresenta uma tradição que pouco conhecemos e a ilustra com personagens que despertam empatia mesmo vivendo em uma realidade de conceitos tão diferentes dos nossos. Personagens habituados a tomar decisões baseadas na sobrevivência e não nos sonhos, acostumados a ver perdas e desilusões ganharem mais espaço que as alegrias. Sem dúvida, uma leitura diferente e enriquecedora quando pensamos na frequência com que somos bombardeados com a cultura norte-americana e o quão pouco sabemos sobre as tradições orientais.

O livro me trouxe um sentimento constante de angústia porque a todo momento eu imaginava como seria a vida desta mulher se ela não tivesse sido vendida na infância. Em um determinado momento da história, ela chega à conclusão que ela havia se tornado gueixa por não ter escolha, mas, na verdade, suas escolhas haviam sido subtraídas e isso me deixou desconfortável quanto a resignação que ela própria tem quando se torna adulta.

Em 2005, o livro ganhou uma adaptação cinematográfica – dirigida por Rob Marshal – vencedora de inúmeros prêmios, entre eles o Oscar de direção de arte, figurino e fotografia.

Eu gostei bastante!!


Um pouco sobre o autor:
Arthur Golden nasceu em Chattanooga, Tennessee, em 1956 e é um escritor norte-americano. Ele formou-se em Harvard em 1978 em História de Arte, especializando-se em arte japonesa. Em 1980 fez um mestrado em Artes (M.A.) dedicado à História japonesa, na Universidade de Columbia, onde também aprendeu mandarim. Depois de um verão na Universidade de Pequim, foi trabalhar para uma revista em Tóquio. Em 1988 fez um M.A. sobre Inglês na Universidade de Boston. Viveu e trabalhou no Japão, e desde essa altura tem ensinado escrita criativa e literatura na área de Boston. Vive em Brookline, Massachusetts, com a mulher e os filhos. Memórias de uma Gueixa é o seu único livro publicado no Brasil.

Comentários
1 Comentários

Um comentário :

  1. Ivi!
    Quando eu estava fazendo curso de Japonês lembro que meu Sensei passou esse filme pra gente assistir, e fiquei impressionado com esse aspecto da cultura nipônica.
    A obra então deve ser ainda melhor, traçando um paralelo entre o que é ser uma gueixa e as implicações de tudo isso para as meninas que são fadadas a esse futuro.
    Imagino que a obra nos passa também uma sensação de inconformidade com tudo isso. Meninas são VENDIDAS para saciarem desejos de homens poderosos. Com certeza Memórias de Uma Gueixa Deve render ótimas reflexões.
    Beijos.

    ResponderExcluir

Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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