O Acerto de Contas de Uma Mãe (Sue Klebold)

quarta-feira, 18 de março de 2020

FICHA TÉCNICA
Nome original: A Mother's Reckoning: Living in the Aftermath of Tragedy
Autora: Sue Klebold
Tradução: Ana Paula Doherty
País de origem: Estados Unidos
Número de páginas: 304
Ano de Lançamento: 2016
ISBN-13: 9788576864561
Editora: Verus 

Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 17º livro lido em 2020 e foi O Acerto de Contas de Uma Mãe (Sue Klebold). Embora o livro tenha sido lançado no Brasil em 2016, eu só tomei conhecimento dele em 2019, fiquei curiosa com o seu conteúdo após assistir o TedTalk da autora, descobrir quem ela era e do que o livro se tratava. Adianto que foi uma leitura visceral e se tornou um dos meus livros favoritos do ano.

Em “O Acerto de Contas de Uma Mãe – A vida após a tragédia de Columbine”, temos o relato da tragédia pelos olhos de Sue Klebold, a mãe de Dylan Klebold, um dos atiradores responsáveis por aquele dia de horror em 20 de abril de 1999. É uma narrativa forte, que nos faz pensar sobre nossa vida e sobre nossas atitudes no trato com as pessoas.


Antes de falar sobre o conteúdo do livro, é preciso lembrar o que foi essa tragédia: O Massacre de Columbine ocorreu em 20 de abril de 1999, na Columbine High School, em Littleton, no Colorado, Estados Unidos. Além do tiroteio, o ataque complexo e altamente planejado envolveu o uso de bombas para afastar os bombeiros, tanques de propano convertidos em bombas colocadas na lanchonete, 99 dispositivos explosivos e carros-bomba. Os autores do crime, Eric Harris e Dylan Klebold, mataram 12 alunos, um professor e feriram outras 24 pessoas. Depois de trocarem tiros com policiais respondentes, a dupla cometeu suicídio.

Sue Klebold é a mãe de Dylan Klebold e embora comece nos contando como foi o dia da tragédia, o livro segue uma ordem linear e cronológica, ela conta sobre a vida de Dylan desde o dia do seu nascimento. Com o olhar de uma mãe carinhosa, relata que ele sempre foi doce, bom filho e sempre teve um comportamento tranquilo na escola, sendo que era uma das crianças mais inteligentes nos anos de ensino fundamental. Esse comportamento mudou um pouco com a chegada da adolescência e Dylan se tornou mais introspectivo, mas isso sempre foi visto apenas como uma característica de sua personalidade. Ele tinha amigos, dividia seu tempo entre a escola e pequenos trabalhos como em uma pizzaria da cidade e tinha uma vida social saudável, até se aproximar de Eric Harris e cometer o primeiro delito com ele: roubar um carro e levar o equipamento eletrônico. Quando isto aconteceu, ambos foram encaminhados para um tipo de medida sócio educativa e liberados desta punição por terem um comportamento exemplar dentro do programa.


Mesmo com este fato e a timidez e distância de Dylan se tornando maiores a cada dia, Sue e seu marido não perceberam que o filho estava deprimido e pretendia se matar, inclusive tinha planos de cometer o suicídio antes de participar do massacre com Eric. Diários e vídeos dos dois mostravam que tudo estava sendo planejado um ano antes. Nos diários pessoais de Dylan, ele salientava que não chegaria a fazer aquilo na escola, pois teria tirado a sua vida antes.

No dia do massacre, Sue estava trabalhando e recebeu a ligação do marido informando que um atirador estava na escola de Dylan e tinha aberto fogo contra os alunos. Desesperada, Sue foi para casa imaginando se seu filho seria uma das vítimas e foi desesperador saber que na verdade seu filho era um dos atiradores. A polícia foi até a casa deles e solicitou que saíssem para que fizessem buscas, então Sue e o marido tiveram que se alojar na casa de parentes enquanto os primeiros dias eram esclarecidos.

A partir disso, Sue teve que conviver com o luto pela perda do filho e o ódio da comunidade que a culpava pelo que acontecera, afinal, como mãe ela tinha a obrigação de saber que seu filho era um monstro. 

O livro avança sobre todas as consequências dos atos de Dylan sobre Sue, o pai e o irmão Byron e como ela tentou diariamente superar a perda e a tristeza avassaladora de não ter sido capaz de entender que Dylan não estava bem pelos sinais que ele havia dado ao longo de meses.


Eu me emocionei muito em várias partes do livro. Uma dessas vezes foi no sepultamento de Dylan. Nos Estados Unidos o ritual de enterro de mortos é algo que tem certa pompa. Famílias convidam todo mundo para essa despedida e uma cerimônia é feita em homenagem ao falecido. Isso era algo impossível de ser feito para Dylan por motivos óbvios e a despedida dele foi de forma discreta, com apenas os pais e o irmão. Decidiram cremar o corpo de Dylan porque temiam que o túmulo pudesse ser vandalizado e acreditavam que eles próprios teriam que ir embora da cidade e não teriam como voltar para visitar o túmulo do filho. Essa despedida foi muito triste porque todos ainda estavam em estado de choque e esse último momento com o corpo dele precisou ser rápido e controlado.

Outra parte muito triste da narrativa é quando Sue e o marido, escondidos na casa de familiares, viram na televisão que seus vizinhos haviam colocado uma faixa no portão da casa deles oferecendo ajuda, avisando que sabiam que eles não tinham culpa e que deveriam entrar em contato com eles se precisassem de algo.

Outra parte que me fez chorar bastante foi quando os pais foram chamados para terem o conhecimento do encerramento da investigação e tiveram acesso aos vídeos e aos diários de Dylan e Eric, bem como de como fora a trajetória dos dois dentro da escola no dia do massacre. Sue não teve acesso imediatamente aos relatos escritos, mas conta como foi ver o filho falar dos planos no vídeo e do quanto não o reconheceu enquanto ele se mostrava raivoso e decidido a matar os colegas. A parte em que a investigadora conta o passo a passo dentro da escola, bem como as imagens das fitas de segurança são perturbadoras e isso é contado no livro de forma angustiante.

Após todos os processos judiciais, Sue decidiu contar sua experiência ao mundo e pedir perdão publicamente as famílias, embora o tenha feito nas semanas após a tragédia através de cartas enviadas as famílias enlutadas.

O livro é sobretudo um alerta forte para pais e mães de adolescentes que ainda que façam o seu melhor e se esforcem pelos seus filhos, não possuem a dimensão de tudo o que pode incomodá-los. Sue relata que não existe um único dia que ela não se pergunte como não percebeu o caminho da violência que a tristeza do filho o estava levando.

O livro traz muitas referências sobre as doenças mentais como depressão e uma bibliografia rica para que os leitores possam consultar após esta leitura. Sem dúvida, o que mais me chamou a atenção foi a sinceridade e honestidade que a autora teve ao abrir sua vida, se colocar totalmente numa posição vulnerável e reconhecer que amar pode não ser o suficiente para que os filhos sejam bem-sucedidos em suas vidas e escolhas.

Foi uma leitura forte, perturbadora, sufocante, mas muito necessária. Como disse no início desta resenha, este livro se tornou um dos meus favoritos no ano de 2020.

Forte, impactante e infelizmente, muito relevante.


Um pouco sobre a autora: Susan Francis Klebold é uma autora e ativista americana. Ela era mãe de Dylan Klebold, um dos autores do massacre da Columbine High School em 20 de abril de 1999. O Acerto de Contas de Uma Mãe é o seu único livro publicado no Brasil.
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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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