Nome original: The Song of Achilles
Autora: Madeline Miller
Tradução: Gilson Cesar Cardoso de Sousa
País de origem: Estados Unidos
Número de páginas: 392
Ano de Lançamento: 2013
ISBN-13: 9788564850330
Editora: HarperCollins
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Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 44º livro lido em 2019 e foi A Canção de Aquiles (Madeline Miller). Lá em 2013 ouvi elogios generosos para este livro e quis lê-lo na época, porém eu acabei esquecendo desta obra e a pouco tempo li uma crítica tão elogiosa que a curiosidade voltou e eu decidi não deixar para depois.
O livro conta a história de Pátroclo, o melhor amigo e companheiro do herói da Ilíada, Aquiles. Para começar, ninguém precisa ter lido – nem conhecer a fundo – a Ilíada para entender e apreciar este livro, ainda que a edição da HarperCollins contenha um glossário de personagens para quem quiser saber mais. A autora compõe uma narrativa que se sustenta sozinha, construindo o mundo homérico quase como um universo fantástico. Isso é possível graças ao fato de a época de composição dos dois poemas épicos ser anterior às chamadas épocas das quais temos registros arqueológicos, de modo que a obra homérica é recheada de deuses e heróis. Qualquer recontagem da Ilíada que ignorasse a mitologia seria falha e a autora não peca nesse aspecto. A mãe de Aquiles, Thetis, uma ninfa do mar, é uma das personagens mais marcantes (re)inventadas pela autora, que consegue lhe dar um aspecto verdadeiramente sobrenatural e assustador.
Aliás, logo de cara deve ser apontado que a narrativa é primorosa em muitos aspectos. Há livros cuja prosa compensaria quaisquer outras falhas e acredito que a maioria dos leitores de A canção de Aquiles reconhece a maestria narrativa de Miller. Enquanto lia, ficava dividida entre devorar as páginas para saber o que acontecia em seguida e voltar a cada parágrafo para repetir e saborear as palavras, metáforas e a paixão na escrita. Isso não quer dizer uma prosa difícil ou sofisticada. Pelo contrário: é a simplicidade das palavras que torna sua combinação um trunfo tão grande. Não surpreende que a autora – que, aliás foi professora de latim e grego antigo e é estudiosa da área – tenha levado uma década para completar o livro.
A trama então se passa do ponto de vista do Pátroclo, que é um personagem secundário da Ilíada e melhor amigo do herói Aquiles. Sendo um príncipe exilado para os domínios de Rei Peleu, esse jovem terá seu destino compartilhado com o misterioso, belo e, por falta de um vocábulo mais aprimorado de minha parte, divino Aquiles.
Aqui começa o que considero ser a primeira genialidade da autora. Ela pegou um personagem pouco representado na história original e transformou-o em seu protagonista.
É um rapaz de formosura invejável e beleza radiante, admirado por muitos como um dos mais belos e poderosos guerreiros da Grécia. Não o bastante, carrega consigo a profecia de que se tornará o mais poderoso guerreiro da mitologia, algo que sua orgulhosa mãe vive a se gabar, apesar de ser uma criatura a quem todos temem.
Pátroclo, diferente de Aquiles, é um rapaz tímido e franzino, sem qualquer tipo de atributo físico que mereça destaque, mas eis que ele e Aquiles passam a ter uma amizade profunda e verdadeira, que evolui para um romance.
A história é sobre dois amigos que se tornam amantes, mesmo contra os reveses como a profecia do semideus e a mãe megacontroladora do rapaz. A priori, achei bem ousado da autora fazer um romance homossexual utilizando o herói que foi eternizado por muitos como um mulherengo, graças a adaptação de "Tróia" com o Brad Pitt. Pesquisando sobre o personagem, verifiquei que esse envolvimento com o Pátroclo é real e como sabemos, esse tipo de relacionamento era bastante comum nas civilizações greco-romanas até a cristianização.
A história tem então esse pano de fundo bastante conhecido, porém, o olhar que ela dá para o narrador torna toda a história mais sensível e bela. Pátroclo é um rapaz que cresceu destinado ao fracasso. Nem mesmo seu pai esperava algo de grandioso do rapaz e, ao tornar-se um exilado, sua vida parecia ter terminado ali. Porém, conhecer e se envolver com Aquiles dá um novo ânimo na vida do rapaz.
Algo me incomodou no romance: o fascínio do protagonista pela figura do Aquiles, me pareceu muito exagerada. Mas o desconforto não persistiu, pois Pátroclo demonstra ter sim domínio de si e toma decisões próprias, mesmo que elas acabem pondo em cheque o relacionamento dos dois.
Intenso, instigante e romântico, o livro é muito bem escrito e lamento não ter lido a obra no primeiro momento em que me interessei por ela.
Gostei muito!