As Fúrias Invisíveis do Coração (John Boyne)

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Ficha Técnica:
Nome Original: The Heart's Invisible Furies
Autor: John Boyne
País de Origem: Irlanda
Tradução: Luiza de Aragão
Número de Páginas: 536
Ano de Lançamento: 2017
ISBN: 9788535929775
Editora: Companhia das letras

Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 71º livro lido em 2017 e foi As Fúrias Invisíveis do Coração (John Boyne). Quando o autor mostrou a capa do novo livro dele lá na Europa, eu já fiquei passando mal, imaginando quando o livro chegaria ao Brasil e ainda bem que não demorou muito e quando entrou em pré-venda aqui, lá estava eu comprando sem nem ler sinopse, porque John Boyne é o governador geral da minha estante e mais claro que a água, eu teria que ler seu mais novo lançamento.

O livro nos traz a saga de Cyril Avery, desde o dia do seu nascimento em 1945 até os dias de hoje, começando em Dublin e nos levando para Amsterdã e Nova York. A mãe de Cyril, Catherine, foi expulsa do vilarejo em que morava quando aos 16 anos engravidou, e o padre da paróquia da região tratou de mandá-la embora. Ela seguiu para Dublin, sem dinheiro e sem apoio nenhum e chegando lá, com aproximadamente 5 meses de gestação, executou o “grande plano” que consistia em trabalhar até dar a luz e colocá-lo para adoção. E foi o que ela fez, já enfrentando muitas dificuldades financeiras e sociais, e assim, o filho foi entregue para o casal Charles e Maude, ele um banqueiro bem sucedido e ela uma excelente escritora. Ciryl então cresceu com conforto e acesso à boa educação, mas desde muito cedo, o casal deixou claro que ele não era um Avery e muitas vezes se referia a ele como um projeto de caridade cristã.


Aos 7 anos Ciryll conheceu Julian, que viria a se tornar o seu melhor amigo e desde o dia em que se conheceram, Ciryl percebeu que existia algo diferente em si mesmo e que se confirmou na adolescência: ele não se interessava por meninas e sim por meninos. Ele se descobriu gay e antes mesmo de qualquer manifestação sobre isso, sabia que era errado, porque na Irlanda ser homossexual era punido com prisão.

O livro então irá se desenvolver na luta intensa e absurdamente cruel que Ciryl irá travar consigo mesmo ao tentar esconder e calar o seu desejo natural por homens, vivendo o sexo de forma camuflada, se expondo a perigos e doenças e sofrendo por não poder ser quem ele é.

O livro é uma malha muito bem tecida de personagens. Cada personagem que aparece na história tem um papel pertinente em algum momento da narrativa. Conforme você avança pela leitura, você percebe o vai e vem de pessoas ao redor de Cyril e isso faz o livro se tornar ainda mais interessante. Ninguém que aparece no enredo, aparece sem uma função especifica, e para mim foi tenso quando determinados personagens se aproximavam e sumiam do foco narrativo.

Julian é um personagem que faz despertar o amor e o ódio do leitor. Ele era extremamente mulherengo e como nem fazia ideia que o melhor amigo era apaixonado por ele, não pensava duas vezes em contar as suas conquistas amorosas para Cyril. Os pais adotivos de Cyril eram distantes e egoístas, mas ainda assim, bem desenvolvidos e interessantes, mesmo que pouco admiráveis. O próprio Cyril conseguiu despertar em mim sentimentos controversos. Ele era covarde, inseguro, inconstante e o seu amadurecimento é dado lentamente dentro da trama de forma que você percebe que o protagonista que finaliza a história, não é o mesmo que a iniciou, mas esta mudança é dada de forma gradual ao longo dos capítulos.


Este é o segundo livro do Boyne que temos a Irlanda como cenário principal, e é perceptível a mágoa que o autor tem para com a pátria e sua história cheia de fatos preconceituosos. A crítica para com a instituição católica é bem incisiva também, e você percebe exatamente a que ponto o autor quer te levar. Ao mesmo tempo em que vemos essa sinceridade em relatar os erros que o governo Irlandês cometeu ao longo da história, vemos ainda um desejo implícito que aquele não fosse o país de origem do autor.

O livro aborda a homossexualidade com seriedade e de forma brutal. A narrativa constrói um personagem que anda na contramão de toda uma cultura e embora ele encontre muitas pessoas parecidas como ele ao longo do caminho, ele ainda se sente sozinho e não merecedor do seu lugar na sociedade. Temas como bullyng, AIDS, pedofilia e relações abusivas permeiam o enredo e nada é tratado de forma superficial. O livro que segue uma narrativa linear e que por conter muitos fatos reais misturados a imaginação criativa do autor, poderia ser chato e cansativo, não é. Pelo contrário, é dinâmico, com um alivio cômico inserido de forma a não tirar a seriedade da história.

Mais uma vez, conclui a leitura muito satisfeita. Por mais que eu tente não ser uma babona pelas obras do Boyne, é impossível não me render ao seu talento único. Ele sabe contar muito bem a história e ao longo disso, te fazer pensar, sentir, se emocionar e desejar continuar com todos os personagens para sempre. Minha expectativa com o livro era altíssima, mas ainda assim, foi alcançada e superada com sucesso. Foi sem dúvida, o melhor livro que eu li em 2017.

A conclusão da história é melancólica, mas muito bem desenvolvida. Inclusive o final é construído de forma que você imagine os personagens e seus desdobramentos, totalmente amarrados aos acontecimentos que rechearam o enredo.


Não foi apenas uma leitura, foi uma verdadeira experiência. O livro traz um pano de fundo histórico muito bem escrito. A história política da Irlanda não é tão popular assim, e pra mim foi de grande ganho. Inclusive o livro se encerra próximo a uma data importante para a comunidade LGBT e isso agregou bastante para o final ter me agradado tanto.

Sei que existem muitas pessoas na atualidade que se dizem saturadas de livros com personagens homossexuais, mas eu acredito que este tipo de livro precisa ser lido, discutido e refletido com muito espaço. Estamos vivendo uma realidade que nos passa uma ideia estranha de tolerância, quando ignoramos o quanto estas pessoas sofreram para conquistar seus direitos. Vivemos um momento em que pessoas têm se escondido atrás de religiões para disseminar preconceito como muitos fizeram no século passado, quando a informação ainda era minúscula. Hoje fazemos parte de uma geração informada, antenada, com acesso a todo tipo de esclarecimento, então, se a literatura é um veículo para que a mensagem de igualdade seja transmitida ao mundo, que a usemos sem moderação.

Eu amei intensamente este livro e tenho certeza que esta história nunca sairá da minha mente e do meu coração porque se trata de amor, família e amizade, sentimentos que sempre terão lugar de honra na minha vida.

Amei, amei e amei muito.


Um pouco sobre o autor: John Boyne nasceu na Irlanda em 30 de abril de 1971, foi professor de inglês em instituições importantes no Reino Unido, mas foi na escrita que se encontrou como profissional. Seus livros publicados no Brasil são:

  • O Menino do Pijama Listrado
  • O Garoto do Convés
  • O Palácio de Inverno
  • Noah Foge de Casa
  • O Pacifista
  • O Ladrão do Tempo
  • Tormento
  • A Coisa Terrível Que Aconteceu com Barbaby Brocket
  • Fique Onde Você Está e Então Corra
  • Dia de Folga (Conto)
  • A Casa Assombrada
  • Uma História de Solidão
  • O Menino no Alto da Montanha
  • As Fúrias Invisíveis do Coração
Mais sobre o autor AQUI
Comentários
7 Comentários

7 comentários :

  1. Oi Ivi tudo bem?
    Eu não conhecia esse livro e consigo perceber que deve ter sido uma leitura extremamente emocionante não é mesmo? É de fazer o leitor refletir e morrer de amores!
    Beijinhos

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  2. Oie!

    Já vi a capa dessa obra por ai, todos os livros desse autor sempre fazem sucesso, mas infelizmente a proposta da obra não desperta meu interesse, mas irei indicar para uma amiga ela talvez goste da leitura!

    BJss

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  3. Olá!
    Eu adoro os livros do John Boyne, mas estava por fora deste lançamento. Eu achei a premissa interessantíssima e os assuntos que o livro aborda precisam ser mais debatidos.
    Ainda não li um livro de temática LGBT, mas seria um prazer começar por este.

    Abraço!

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  4. Olá!

    Ainda não li nada do Boyne, mas esse me parece ótimo para conhecer a escrita dele, ainda mais por abordar a temática LGBT.

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  5. Oi Ivi, tudo bem?
    Ainda não li nada muito profundo quanto esta temática, mas adorei ler a sua resenha tão inspiradora... A maioria das vezes que venho aqui, tem uma resenha deste autor... é tão bom quando admiramos alguém e sempre o seguimos em seus escritos... O enredo do livro me chamou atenção porque conta a trajetória do garoto. Xero!

    https://minhasescriturasdih.blogspot.com.br/

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  6. Oie Ivi!!

    Menina acredita que pelo nome eu não reconheci o autor? Gostei muito da capa do livro, da sua resenha principalmente e pela sua paixão pela obra.
    O autor em questão gosta de livros que envolvem a parte mais sentimental, que faz a gente pensar e se colocar no lugar das pessoas, adoro isso

    beijos
    Livros & Tal

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  7. Oi Ivi,
    Tudo?
    Então primeiro fico feliz que o livro te agradou tanto assim, é muito bom quando encontramos escritores que mexem com nosso coração. Para mim infelizmente não tenho muita vontade de conhecer a obra. Apesar de se passar em outros países e termos outras culturas vi que ele aborda bastante a questão do homossexualismo e tal, e apesar de eu não ter nenhum preconceito quanto a isso,inclusive tenho vários amigos assim, não é algo que eu sinta vontade de ler.
    Beijos
    Raquel Machado
    Leitura Kriativa
    leiturakriativa.blogspot.com

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Ivi Campos

48 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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