Estamos de volta ao fascinante mundo de Dexter, o serial
killer mais amado do mundo. Para quem ainda não conhece, é melhor ler a resenha
do primeiro livro da série: Dexter, a mão esquerda de Deus. Ali vocês vão saber
de quem estarei falando.
Esqueça o Dexter da série de TV. Esse Dexter foi baseado no
primeiro livro, e mesmo assim os roteiristas tiraram apenas a ideia de Jeff
Lindsay e a adaptaram para TV. O segundo livro não tem nada a ver com a segunda
temporada da série, mas vale a pena acompanhar os dois: livro e TV.
Dexter está de volta, mas dessa vez ele terá que ser bem
mais astuto uma vez que terá em seu encalço o sargento Doakes, que sente que
existe algo escondido e nebuloso em Dexter e resolve segui-lo em todos os
lugares a fim de descobrir seu segredo. Todos nós que acompanhamos Dexter
sabemos que o sargento Doakes tem razão: Dexter esconde um segredo e sabemos
qual é esse segredo, mas não queremos, tanto quanto Dexter, que esse segredo
seja descoberto. Sim, vamos odiar o sargento. Sim, vamos torcer por Dexter mais
uma vez. E sim, vamos acabar ficando doidas querendo falar para Dexter não ir,
não fazer alguma coisa que esteja planejando, porque o bendito sargento está na
espreita para pegá-lo.
Como Dexter vai conseguir domar o Passageiro das Trevas,
para que ele não seja descoberto? E o Passageiro está ainda mais aflito do que
antes e querendo se libertar.
“Há noites em que o Passageiro das Trevas precisa sair para brincar. É como levar o cão para passear. Podem-se ignorar os latidos e os arranhões na porta por algum tempo, mas cedo ou tarde o animal precisa sair à rua.” (Pág. 15)
A história desse segundo livro já começa com Dexter tentando
levar uma vida doméstica e normal, tudo para despistar o sargento Doakes que
está em sua cola. E as primeiras páginas do livro já são engraçadas porque
mostra Dexter em uma atividade infantil, brincando de esconde-esconde com os
filhos de sua namorada: Cody de 6 anos, e Astor de 9. Uma brincadeira que
Dexter narra como um fato sinistro, como se ele estivesse se escondendo de um
assassino perigoso.
“Meu querido lado obscuro me instiga a atacar – agora -, mergulhar meus caninos enluarados na carne vulnerável, ah, tão vulnerável, do lado oposto da cerca. Mas ainda não é o momento, e então espero, vigiando minha vítima, que se esgueira, de olhos arregalados, sabendo que algo a observa, mas sem notar que estou aqui, a três passos da cerca. Poderia deslizar facilmente, como a lâmina que sou, e executar minha mágica, mas espero, pressentido, embora invisível.” (Pág. 9)
Nesse disfarce de homem normal, Dexter acaba descobrindo
suas outras faces, outras habilidades e, apesar de ele ainda estar se sentindo
nervoso por não poder fazer o que sua natureza implora, que é perseguir os
assassinos e mata-los, ele se vê angustiado e com receio de acabar se acostumando
com uma vida pacata. E a maneira que o autor narra essa nova experiência de
Dexter, mostrando o sarcasmo e ironia do personagem, nos faz divertir com cada
parágrafo escrito. Dexter, apesar de tudo, é puro e a narração de suas
experiências de vida são muito engraçadas.
“Como isso foi possível? Será que o Passageiro das Trevas vai se aposentar antes do tempo? Será que Dexter amoleceu? Será que eu atravessei o longo saguão escuro e saí do outro lado como Dexter, o Doméstico? Voltaria eu a colocar uma única gota de sangue sobre a lâmina de vidro – meu troféu da caçada – como sempre fiz?” (Pág. 12)
Dexter estava perseguindo um assassino de crianças, um
corretor de imóveis chamado MacGregor que “amava” garotos entre cinco e sete
anos, e Dexter não tinha dúvidas que essa afeição fora fatal para cinco desses
meninos. Dexter possuí um instinto para detectar essas pessoas, afinal, um
monstro reconhece facilmente outro. E após localizar MacGregor, ele descobre
que esse não trabalhava sozinho, tinha um cúmplice que estava sempre com ele já
que MacGregor guardava como suvenir uma pilha de fotos de garotos nus e
amarrados com fita adesiva, junto a MacGregor igualmente nú e em diversas poses
ao lado dos meninos. Se MacGregor aparecia nas fotos com os meninos, então
havia uma terceira pessoa tirando as fotos e para Dexter, essa terceira pessoa
era tão monstro quanto o outro e merecia um fim tão perfeito, para não dizer o contrário.
E Dexter segue em perseguição a essa pessoa, querendo descobrir quem era e
fazer com que pague pelo seu ato. Nesse momento é que surge na vida de Dexter,
o sargento Doakes, e com isso Dexter precisa frear o Passageiro das Trevas, sua
sombra. Isso seria o mesmo que tentar prender uma grande fera.
E para fazer com que a vida de Dexter fique ainda mais
difícil surge na cidade um outro serial killer, Dr. Danco que deixa Dexter
fascinado por usar uma técnica monstruosa, fascinante e ao mesmo tempo,
chocante. O doutor esquarteja suas vítimas, escalpela seu rosto e deixa suas
partes montadas.... isso tudo sem matar. Não é de se espantar que Dexter sinto
um fascínio e queira encontrar esse serial killer, mesmo ficando na dúvida se
gostaria que ele fosse preso. Por causa do seu instinto em conseguir perseguir
e encontrar esses assassinos cruéis, ele é destacado pelo FBI para ajudar na
perseguição. Então, ponha-se no lugar de Dexter e imagine a situação em que ele
se encontra nesse livro. Perseguido pelo sargento Doakes que acredita ter
Dexter um mistério sinistro a ser desvendado. Tendo que parar no meio de uma
investigação a um fotógrafo pedófilo. Tendo que viver uma vida doméstica e
normal para despistar Doakes e assim mostrar que ele é um homem como todos os
outros e não esconde nada. E agora ainda ter que ajudar o FBI a encontrar um
serial killer que ele acaba admirando e por quem vive o dilema de encontrar e não
saber se gostaria que ele fosse pego.
Ufa... a mente de Dexter nesse segundo
livre está mais irônica do que nunca, e vale a pena acompanhar suas
desventuras. Saber como ele vai resolver todos esses dilemas faz com que não dê
para parar de ler o livro. Se você leu e se apaixonou por Dexter e pela
narrativa de Lindsay, no primeiro livro, tenha certeza que nesse segundo livro
vai se apaixonar mais ainda. Apesar do roteiro parecer pesado, o autor escreve
sua história de maneira leve e divertida, e faz graça com ele mesmo, como nessa
parte:
“Admito que estava irritado com a atitude de Kyle comigo. O que ele dissera mesmo? Que eu estaria ‘no meio da merda’ e acabaria ‘saindo pelo esgoto’. Sem brincadeira, quem escreve os diálogos dele? E o súbito ataque de sutileza de Deborah, que costumava ser minha especialidade, me deixara ainda mais nervoso.” (Pág. 90)
Nesse segundo livro, o autor explora um pouco mais os
personagens secundários. A namorada de Dexter, Rita, e seus filhos Astor e Cody
aparecem mais vezes, uma vez que Dexter está mais doméstico. Seus companheiros
de trabalho são mais ativos. Sua irmã adotiva e seu namorado, o agente do FBI,
Chutsky com quem Dexter se une para encontrar o Dr Danco. Então dessa vez,
Dexter não está tão sozinho e por isso também dá para entender sua aflição, já
que ele sempre fez questão de passar o menor tempo possível no convívio com
outras pessoas.
Impossível não se divertir com Dexter e suas tiradas
inteligentes. O autor merece meus parabéns. Ainda não li os outros livros da
série (são 7 livros no total), mas depois de ler esse segundo livro e, mesmo
agora escrevendo sua resenha, já sinto saudades desse serial killer
carismático, sarcástico e apaixonante.
“É uma palavra estranha essa, ‘namorada’ (girlfriend), principalmente aplicada a pessoas adultas. E na prática é um conceito ainda mais estranho, já que define uma mulher, não uma menina, disposta a oferecer sexo, não amizade. Na verdade, pelo que havia observado, era muito possível não gostar da própria namorada, embora o ódio verdadeiro fosse reservado ao casamento. Nunca consegui determinar o que as mulheres esperam de um namorado, mas aparentemente Rita achava que eu satisfazia a esse critério. Certamente não era sexo, que para mim era tão interessante quanto calcular o déficit da balança comercial.” (Pág. 38)
“Inútil continuar especulando. Eu nada sabia sobre o amor, e jamais saberia. Não me fazia muita falta, mas me dificultava muito entender a música popular.” (Pág. 218)
Um pouco sobre o autor: Jeff Lindsay é o pseudônimo do dramaturgo e romancista
americano Jeffry P. Freunclich (nascido em 14 de julho de 1952), mais conhecido
por seus romances sobre o psicopata justiceiro Dexter Morgan. Muitos de seus
trabalhos anteriores publicados incluem sua esposa Hilary Hermingway como
co-autora. Sua esposa é sobrinha do escritor Ernest Hemingway.
Outros livros da
série:
- Dexter, a mão esquerda de Deus
- Dexter no escuro
- Dexter – Design de um assassino
- Dexter é delicioso
- Duplo Dexter
- Dexter em cena
Lendo sua resenha dá até um pouco de vontade de ler, mas não tem jeito, não é um gênero que me atrai. Já tive vontade de assistir a série, mas ficou só na vontade. Bjs
ResponderExcluirInfelizmente, também não sou chegada à livros desse gênero, isso pode ser meio estranho já que eu nunca li nenhum até o fim. Sempre aparece alguma leitura que eu considero mais interessante e eu acabo abandonado-o. Mas, sei lá, só não consigo me interessar e partir para começar a ler um ou melhor começar e terminar pois até hoje isso nunca aconteceu... Já tinha ouvido falar da série de TV mas eu não tinha a menor ideia de que ela - assim como a maioria das séries de hoje - fosse baseada em um livro, assim também nunca li nada desse autor, nem o conhecia. Apesar de não gostar muito do gênero parece ser uma boa leitura já que você pareceu tão empolgada por lê-lo. Quem sabe um dia desses eu não dou uma ultima chance para esse gênero de livro e leio ele também...
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