SÉRIES DO MEU CORAÇÃO #64 Bel Air

segunda-feira, 15 de agosto de 2022



Oi gente que ama livros, hoje venho com mais um post da coluna Séries do Meu Coração e compartilharei com vocês meu amor por mais uma série apaixonante.

A série do mês é Bel Air.

Um dos personagens icônicos da TV nos anos 90 foi o Will, um jovem descolado e bem-humorado, que coloria qualquer ambiente em que entrasse na série Um Maluco no Pedaço. Em uma segunda olhada, no entanto, sua figura também trazia traumas pertinentes que necessitavam de um olhar menos bem-humorado sobre os assuntos que incomodavam o jovem sorridente e bagunceiro, que veio de uma periferia da Filadélfia e agora vivia em uma luxuosa casa de Bel Air, Los Angeles. Foi baseado nessa perspectiva mais dramática que Will Smith – que viveu o personagem original – criou o reboot Bel Air, trazendo o protagonista para os dias atuais e dando mais foco à veia dramática do que para o humor. A nova versão nasce como uma obra saudosista, respeitando a original, mas com sua própria identidade.

O reboot traz um Will jovem e muito talentoso vivido pelo ator Jabari Banks, que só quer ser respeitado na Filadélfia. Como muitos prodígios de sua idade, o personagem tem muita personalidade e pouca cabeça, que rapidamente se envolve em problemas: assim como na abertura da série original, o jovem jogador de basquete arruma problemas com um gângster local e precisa morar com o tio rico, onde conhece um universo completamente novo. Como na versão original, não há como não simpatizar com Will nem como fugir da aversão inicial a Carlton Banks, desta vez vivido por Olly Sholotan. O primo rico retorna com seu ar de superioridade e atitudes esnobes importantes para seu processo de amadurecimento.


Assim como na vida real, dinheiro nenhum é o bastante para proteger a família Banks do racismo, que afeta cada membro de maneira diferente – e não são todos que conseguem perceber a situação em que se encontram. No caso de Will, os ataques são mais nítidos devido a sua origem pobre. Com a família do tio, é diferente. A produção fez questão de abordar as diversas camadas do racismo estrutural, mostrando, por exemplo, como mulheres negras em geral estão mais vulneráveis a ele. Enquanto isso, na área dos funcionários, vemos um Jeffrey que não tem mais posição de serviçal. O outrora mordomo engomadinho agora é retratado como o braço direito de Philip e, ao invés de assegurar a limpeza, cuida de alguns serviços sujos hora ou outra. Esse novo status dá ao mordomo força para muitas intervenções, inclusive confrontar o todo poderoso tio Phil.

Dessa vez, a participação da família gira em torno da candidatura de Philip para promotor de justiça, criando espaço para que Bel Air provoque seu público-alvo a refletir sobre como o dinheiro pode separar as pessoas pretas. Phil tem grandes chances de vencer com o voto do eleitorado negro, mas essas pessoas, em sua maioria pobres, não se reconhecem nele. Aliado a isso, a família que há muito vive na opulência não sabe mais como dialogar com a comunidade nem entender seus problemas. Essa angústia quase palpável corrói o personagem, que exprime muito bem esses sentimentos.


A série ganha ainda mais adrenalina nos momentos em que Will é obrigado a confrontar a noite da briga com o traficante que o fez ser preso. A produção retrata traumas e bloqueios de Will de forma magistral, com diálogos agitados em momentos memoráveis e convincentes. Não é possível passar ileso pelos episódios de Bel Air. Seja pelo drama ou pela comédia, há sempre algum momento, um detalhe prestes a te devorar ou ser devorado.

O ator Will Smith não mentiu quando disse que essa seria uma versão mais dramática e deve ser ainda mais impactante para quem criou algum tipo de afeto pela série original. Nesse sentido, não seria errado afirmar que temos referências, mas todas são encobertas por uma densa cortina dramática. Além do roteiro bem construído e boas atuações, o reboot repete outros acertos e apresenta estética visual impecável, com uma trilha sonora muito bem pensada.


Com muito mais recursos e sem a famosa plateia nos bastidores, Bel Air chega para reforçar questões que Um Maluco no Pedaço já escancarava ao final dos anos 1990. Mesmo com um elenco não tão experiente, a produção se esforça para entregar um drama profundo sem sufocar o público com o tormento das questões sociais. A série entrega um ótimo resultado em seu primeiro ano, deixando um caminho seguro para um possível futuro. O que nos resta é torcer para que os boicotes a Will Smith após o tapa em Chris Rock no Oscar de 2022, não impeçam o retorno da obra nem tirem do elenco a oportunidade de amadurecer ainda mais.


A série está no serviço de streaming Starz e vale a pena ser conferida!

Trailer oficial:

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Ivi Campos

48 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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