
“Crianças, a ficção é a verdade dentro da mentira, e a verdade desta ficção é bem simples: a magia existe.” (SK na dedicatória do livro a seus filhos)
Nesse livro, o autor nos leva ao ano de 1958 e nos faz
conhecer 6 meninos e uma menina (Bill, Richie, Eddie, Stan, Ben, Mike e
Beverly), com idades em torno dos 11 anos. Sete amigos que o destino vai
reunindo e que as consequências vão fazendo com que eles se fortaleçam e
conheçam o real significado da amizade, do amor, da confiança e do medo. O mais
terrível de todos os medos. Nas férias escolares daquele ano eles se deparam
pela primeira vez com a Coisa, um ser sobrenatural que aterroriza a todos os
habitantes da pequena cidade de Derry, no Maine. Essas crianças enfrentam a
Coisa, mas elas não têm certeza absoluta de que conseguiram aniquilá-la, por
isso fazem um pacto de sangue e cada um deles promete, que aconteça o que
acontecer, estejam onde estiverem, se a Coisa voltar a aterrorizar a cidade,
que eles voltarão para terminar o trabalho começado. Quase 30 anos depois os
amigos voltam a se encontrar. Todos já adultos e com suas vidas bem
construídas, recebem um telefonema de Mike, o único que permaneceu em Derry,
onde ele conta que coisas estranhas voltaram a acontecer na cidade e que ele só
ligou depois de ter certeza que os fatos só podem ter sido executados pela
Coisa. A cidade novamente, depois de quase 30 anos, vive momentos de terror e
eles tem que voltar a se reunir conforme prometeram. A dúvida é se eles serão
capazes de enfrentar a Coisa agora que são adultos, mas eles precisam enfrentar
a dura realidade de voltar para casa... e encarar novamente o pior dos seus
pesadelos.
King nos apresenta primeiro o gancho da história, onde tudo
começou para esses 7 amigos, com a morte de George, o irmãozinho de Bill, pela
Coisa. Ele nos envolve com os primeiros personagens, nos apresenta
minuciosamente, nos envolve em sua história, e logo nos tira George. Nessas
primeiras páginas, King já nos prendeu, não tem mais como largar o livro.
“ – Quer seu barco, Georgie? Perguntou Pennywise. – Só estou repetindo porque você não parece tão ansioso. – Ele o ergueu e sorriu. Estava usando uma roupa de seda larga com grandes botões laranja. Uma gravata berrante, azul-elétrica, caía pela frente do peito, e havia grandes luvas brancas em suas mãos, do tipo que Mickey Mouse e o Pato Donald sempre usavam.” (Pág. 23)
O livro é dividido em 5 partes, muito bem desenvolvidos e
separando bem a história, e entre as partes temos 23 capítulos e 5 interlúdios,
que o autor explica são segmentos retirados do diário de Mike Hanlon (uma
coletânea de anotações e fragmentos de manuscritos que Mike, um dos amigos e
único que permaneceu em Derry, escreveu e que foi encontrado no cofre da
Biblioteca Pública de Derry). Nos capítulos o autor vai nos apresentando cada
um dos amigos e faz isso no momento que eles recebem o telefonema de Mike
avisando que eles precisam voltar para Derry e cumprir o prometido. Ele nos
mostra exatamente a reação de cada um com o telefonema. Conhecemos tanto as
características físicas, assim como, as características psicológicas de cada
um. Quem já conhece a narrativa de Stephen King, sabe que ele é bem detalhista,
mas ele consegue isso sem fazer com que a leitura fique maçante, porque ele
conta a história como se tivesse realmente nos contando a história, ou seja,
como se estivéssemos, por exemplo, em uma roda de amigos em volta de uma
fogueira, de preferência em um acampamento que faz com que o cenário seja mais
propício para histórias de suspense. A maneira dele contar a história muitas
vezes é até engraçada e isso faz com que o suspense da narrativa fiquei um
pouco mais leve. Mas, não se deixe enganar, que no parágrafo seguinte ele já
vai matar alguém e está você novamente ligado na história que está sendo
contada.
“Mas a garota Albrecht foi encontrada na calçada do outro lado da rua da maldita casa na rua Neibolt... e foi morta no mesmo dia que George Denbrough, 27 anos antes. E o garoto Johnson, encontrado no Parque Memorial sem uma das pernas do joelho para baixo. O Parque Memorial é o lar da Torre de Água de Derry, e o garoto foi encontrado quase na base dela. A Torre de Água fica a um grito do Barrens; a Torre de Água também é onde Stan Uris viu aqueles garotos. Aqueles garotos mortos.” (Pág. 152)
A história é contada mesclando passado e futuro,
principalmente na última parte do livro onde temos que nos ater na data do capítulo
para saber ao certo se estamos em 1958 ou em 1985. A leitura não é linear, mas
Stephen King faz de uma maneira bem fluida e não tem como nos perdermos no
tempo. Essa é uma das características que fazem com que ele seja um autor
espetacular, na minha opinião.
Esqueça aquela imagem do palhaço assassino tão difundida e
que foi explorada no filme da década de 90. A Coisa é muito mais que um simples
palhaço, talvez o palhaço seja a imagem mais cruel da Coisa por ser um
personagem que atrai as crianças, mas a Coisa tem várias faces, dependendo de
você, ela pode ser um lobisomem, um pássaro, um leproso, o Frankstein. Você tem
pavor de múmias? Ok, pra você a Coisa vai ser a múmia. Imagina conseguir fugir
de um ser assim? Prepare-se para os pesadelos e são neles que a Coisa vai
aparecer. Esse foi um dos maiores vilões criados na literatura, pode ter
certeza.
“...e por uma sensação de que Derry era fria, de que Derry era dura, de que Derry estava cagando se qualquer um deles vivia ou morria, e muito menos se eles triunfariam sobre Pennywise, o Palhaço. O povo de Derry vivia com Pennywise em todos os seus disfarces havia muito tempo... e talvez, de alguma forma louca, tivesse até passado a compreendê-lo. A gostar dele, precisar dele. Amá-lo? Talvez. Sim, talvez isso também.” (Pág. 467)
Sem dúvida, IT – A Coisa é a obra-prima de Stephen King. Se você tiver interesse em se aventurar pelas 1.104 páginas dessa história esteja seguro de que vai fazer uma viagem longa, com algumas paradas, porque sim, em algumas partes a narrativa se torna um pouco lenta, mas vai ser uma viagem inesquecível e que no final vai te deixar com muita saudade, apesar de toda palpitação que você irá sentir. Sabe a montanha-russa em um parque de diversões? Você quer enfrentar toda aquela adrenalina, no momento que a aventura começa você pensa que quer sair e quando termina só quer voltar e viver aquilo tudo novamente. Pense nisso quando for ler IT – A Coisa e.... Boa viagem!
“Ela sempre volta, sabe. A Coisa. Então, sim. Acho que vou ter que fazer aquelas ligações. Acho que era para sermos nós. De alguma forma, por algum motivo, somos os eleitos para acabar com isso para sempre. Destino cego? Sorte cega? Ou é aquela maldita Tartaruga de novo? Será que ela também dá ordens além de falar? Não sei. E duvido que importe. Todos esses anos atrás. Bill disse: A tartaruga não pode nos ajudar, e se era verdade na época, deve ser verdade agora.” (Pág. 153)
Um pouco sobre o autor: Stephen Edwin King é um escritor americano, reconhecido como
um dos mais notáveis escritores de contos de horror fantástico e ficção de sua
geração. Os seus livros venderam mais de 350 milhões de cópias, com publicações
em mais de 40 países. (Wikipédia)
Outros livros do
autor publicados no Brasil:
1974 - Carrie (Carrie)
1975 – A Hora do Vampiro (Salem’s Lot)
1978 – A Dança da Morte (The Stand)
1979 – A Zona Morta (The Dead Zone)
1980 – A Incendiária (Firestarter)
1981 – Cão Raivoso (Cujo)
1983 – Christine (Christine)
1983 – O Cemitério (Pet Sematary)
1983 – A Hora do Lobisomem (Cycle of the Werewolf)
1984 – O Talismã (The Talisman, escrito com Peter Straub)
1986 – A Coisa (It)
1987 – Os Olhos do Dragão (The Eyes of the Dragon)
1987 – Angústia (Misery)
1987 – Os Estranhos (The Tommyknockers)
1989 – A Metade Negra (The Dark Half)
1990 – A Dança da Morte (expandida) (The Stand: The Complete
& Uncut Edition)
1991 – Trocas Macabras (Needful Things)
1992 – Eclipse Total (Dolores Claiborne)
1994 – Insônia (Insomnia)
1995 – Rose Madder (Rose Madder)
1996 – À Espera de Um Milagre (The Green Mile)
1996 – Desespero (Desperation)
1998 – Saco de Ossos (Bag of bones)
2001 – O Apanhador de Sonhos (Dreamcatcher)
2001 – A Casa Negra (Black House, escrito com Peter Straub)
2002 – Buick 8 (From a Buick 8)
2006 – Celular (Cell)
2008 – Duma Key (Duma Key)
2011 – Novembro de 63 (22/11/63)
Gostei, Bel. E quando você começou falando que virou fã de carteirinha, lembrei das carteirinhas do grupo. Você foi rápida no gatilho, sem mais, apresentou o autor, suas características e nos introduziu no enredo da história, falando sobre o tema central e seus protagonistas, e claro A Coisa, esclarecendo que a imagem do palhaço não é a única usada, e sim a mais comum, por motivos óbvios. A Coisa para mim seria uma barata. Gostei, gostei mesmo.
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado, Cristiano!
ExcluirE sim, quando falei da carteirinha falei pensando no grupo, afinal temos uma carteirinha mesmo não é? :)
Obrigada pelo comentário!
Bjs
o livro é realmente muito divertido! O filme tem seus melhores momentos na dinâmica do Grupo, lembrando os clássicos de Spielberg e a nostalgia dos filmes da década de 80. IT, a Coisa. uma obra prima do medo!! O início do livro é arrastado: pelo menos até a página 500, nada de muito emocionante acontece. É preciso paciência. A história de Beverly é incrível, mas pode ter muitos gatilhos para quem tem problemas com assuntos como violência contra a mulher, estupro e assédios. As cenas de espancamento e abuso são relatadas detalhadamente, o que torna os capítulos referentes à garota difíceis de serem lidos. Aliás, cenas de violência estão presentes em todo a obra. A ação sinistra da Coisa parece brincadeira de criança (literalmente), se comparadas com as surras que o “valentão” Henry Bowers dá nas outras crianças. Depois de ler mil páginas, o que o leitor espera é que as últimas 100 sejam excepcionais — e expliquem toda a doideira que rolou até aquele momento. Mas não é isso que acontece. O fim de It decepciona por ser muito alheio ao que se esperava. A história do livro parece muito real, até o leitor se deparar com um final completamente místico e desconexo. Outro fator crucial, é claro, é a prosa de Stephen King. O homem faz sucesso por um motivo: a história é tão bem contada que o leitor se sente dentro da pequena cidade de Derry, onde tudo acontece, e se emociona com os personagens.
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