Ficha Técnica:
Nome Original: Arrastados
Autor: Daniela Arbex
País de Origem: Brasil
Número de Páginas: 328
Ano de Lançamento: 2022
ISBN-13: 9786555605648
Editora: Intrínseca
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Nome Original: Arrastados
Autor: Daniela Arbex
País de Origem: Brasil
Número de Páginas: 328
Ano de Lançamento: 2022
ISBN-13: 9786555605648
Editora: Intrínseca
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Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 55º livro lido em 2022 e foi Arrastados (Daniela Arbex). Meu interesse pelo livro surgiu em função da autora, especialista em escrever livros reportagens sobre as tragédias no Brasil.
Não é fácil reportar tragédias, mas a jornalista Daniela Arbex talvez esteja se tornando o grande nome brasileiro dentro deste filão bastante específico: o das reportagens que levam o leitor para dentro de uma cena em que horror impera e um trauma imensurável acomete uma grande quantidade de pessoas.
Foi o que aconteceu no livro reportagem Todo Dia a Mesma Noite, que reconta o incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, que matou 242 pessoas e vitimou milhares de famílias.
Seu novo livro reportagem, lançado este ano, é mais uma vez uma reconstituição de uma das piores tragédias vividas pelos brasileiros. Arrastados – os bastidores do rompimento da barragem de Brumadinho, o maior desastre humanitário do Brasil, assim como os livros anteriores da jornalista, nos transporta para o exato momento em que os trabalhadores que estavam na mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho e foram surpreendidos pelo rompimento da barragem, em um tsunami de lama que os arrastou por quilômetros e destruiu tudo e todos que estavam ali.
O “contrato” que parece ter sido postulado por Daniela Arbex com seus leitores, nesta e noutras obras, é este: levá-los a sentir o sofrimento de muita gente que perdeu sua vida, ou, de uma hora para a outra, ficou sem os seus.
É importante dizer que o gênero livro reportagem – ou seja, com natureza jornalística, em que tudo o que se conta pode ser verificado em alguma medida, não é apenas isso. Uma vez que as técnicas jornalísticas são diversas, o repórter pode construir sua apuração e sua narrativa de inúmeras maneiras.
Sob esta perspectiva, os métodos usados no trabalho de Daniela Arbex são bastante rigorosos e envolvem não apenas a pesquisa, mas também o mergulho nos lugares apresentados na reportagem. Seu modus operandi parece sempre conspirar a um objetivo central que flerta com o impossível: reconstituir a vivência dos que estavam lá no momento em que tudo aconteceu.
Para isso, a jornalista conversou com uma grande quantidade de fontes – entre sobreviventes, parentes das vítimas e membros da equipe de resgate – no intuito de criar uma narrativa coesa e focada nos detalhes. Sabemos, por exemplo, o que dois funcionários conversaram no ônibus que os levou até a mina no fatídico 25 de janeiro de 2019 e qual o bolo que uma personagem havia preparado para dividir com os colegas.
Obviamente, um livro reportagem deste tipo é uma espécie de crônica de uma morte anunciada. Nós já conhecemos o rumo da história contada – sabemos que o dia normal de trabalho daqueles operários que saíram de suas casas para executar suas labutas não acabará bem.
A culpa desta tragédia, como o imbróglio decorrente da tragédia tem esclarecido desde então, é da própria mineradora Vale e dos protocolos falhos de segurança executados, tendo em vista a obtenção dos lucros do minério ao custo de vidas humanas sacrificadas sem que esses sujeitos jamais soubessem de fato o risco que corriam. Neste sentido, a parte final de Arrastados traz um importante compilado sobre as responsabilidades e a negligência dos envolvidos.
No meu ponto de vista, uma das partes mais ricas deste livro reportagem diz respeito à cobertura dada às centenas de profissionais que se envolveram no resgate dos corpos das vítimas. Talvez nem todos saibam, mas a avalanche de lama foi tão violenta que decepou a maior parte das vítimas em muitos segmentos que ficaram perdidos no solo, gerando um tipo de luto quase impossível de expressar em palavras.
Até a época da publicação de Arrastados, ainda havia 7 pessoas não localizadas e nomeadas pelos bombeiros como “joias”. Para as famílias dessas vítimas, a dor de não poder enterrar o ente amado vai além do indizível. Essa dor aplaca também os que têm a missão de lidar com situações emergenciais. Talvez uma das partes mais interessantes do livro seja o foco dado aos bombeiros, aos médicos legistas e aos tantos voluntários que também deixaram suas famílias e se dedicaram, de forma admirável, para devolver os corpos dos mortos aos que ficaram.
Obviamente, um livro que lida de forma aberta e dura com uma tragédia deste porte – que, vale lembrar, não envolve um acidente e sim a decorrência da negligência e ganância de uma multinacional – é uma abordagem obrigatória na esperança que fatos como esse não tornem a acontecer.
Foi uma leitura intensa e melancólica, mas de grande proveito.
Um pouco sobre a autora: Daniela Arbex é uma das jornalistas do Brasil mais premiadas de sua geração, tem mais de 20 prêmios nacionais e internacionais no currículo, entre eles três prêmios Esso, o americano Knight International Journalism Award (2010) e do prêmio IPYS de Melhor Investigação Jornalística da América Latina (2009). Há 20 anos trabalha no Jornal Tribuna de Minas, onde é repórter especial.
Seus livros publicados são:
- Arrastados
- Os Dois Mundos de Isabel
- Todo dia a mesma noite
- Cova 312
- Holocausto Brasileiro