Gente Ansiosa (Fedrik Backman)

sábado, 22 de janeiro de 2022

Ficha Técnica:
Nome Original: Anxious People
Autor: Fedrik Backman
País de Origem: Suécia
Tradução: Maíra Parula
Número de Páginas: 340
Ano de Lançamento: 2021
ISBN-13: 9786555321111
Editora: Rocco

Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 5º livro lido em 2022 e foi Gente Ansiosa (Fedrik Backman). Antes deste livro ser lançado no Brasil, já estava sendo muito comentado e claro, fiquei curiosa para saber se era tudo isso mesmo.

O livro nos traz uma série de personagens distintos entre si, mas com algo em comum: não estão satisfeitos com suas vidas. Após uma tentativa frustrada de assalto a um banco, alguém se refugia em um apartamento cheio de pessoas e assim, elas se tornam seus reféns e o livro desenvolverá a vida de cada um destes personagens, bem como dos policiais ao lado de fora desta cena de crime para nos fazer pensar em como a vida adulta é um caos.


Você já teve a sensação de que a sua vida tomou um rumo completamente errado e você nem teve tempo de reajustar a rota? Ou, de maneira ainda mais simples, já enfrentou um daqueles dias de cão em que você tem a certeza de ter levantado com o pé esquerdo da cama? Sob certo ponto de vista, é isso que acontece em Gente Ansiosa. O que era para ser um assalto a banco rápido e indolor se transforma em um drama de reféns, já que 8 pessoas estão presentes no tal apartamento. A polícia está com poucos funcionários em serviço devido à proximidade do Réveillon, o assaltante de banco não queria machucar ninguém e as essas pessoas não poderiam ser mais diversas – inclusive nas reações à situação. Esse é o cenário com que o autor nos apresenta uma história cativante desde a primeira página.

O livro é tragicômico, o que fica nítido no estilo narrativo da obra. O autor usa de ironias muito bem colocadas e tem um senso de humor meio “autodepreciativo” que eu gostei muito. O livro intercala três tipos de narração: uma em que o narrador onisciente se afasta da situação dos reféns para revelar fatos importantes sobre o passado de uma ponte, na qual 10 anos atrás um homem se suicidou (e isso é relevante); outra que é a narração do que está ocorrendo dentro do apartamento durante o incidente ou entre os policiais responsáveis pelo caso (que, por sinal, são pai e filho); e a terceira, transcrições dos depoimentos dos reféns após sua liberação por parte do assaltante. Ao navegar por esses momentos, Fredrik Backman nos conduz por uma história essencialmente simples, mas cheias de conexões entre os personagens que, pouco a pouco, ganham o coração do leitor.

O livro se passa em uma cidade no interior da Suécia e o departamento de polícia está despreparado para um caso de sequestro, o que pede o envolvimento de autoridades de Estocolmo, a cidade grande da qual os “figurões” tomam as decisões – e que causa grande mal-estar entre os policiais que conduzem o caso. Acontece que Estocolmo também é uma referência à síndrome em que vítimas que tentam se identificar ou até mesmo conquistar a simpatia de seus algozes e certamente essa decisão não foi por acaso. Enquanto leitora, talvez eu mesma também tenha sofrido dessa síndrome ao simpatizar imediatamente com a pessoa que tenta assaltar o banco. Esse personagem tem um background impossível de não provocar empatia, principalmente quando o autor nos fornece informações sobre a quantia que ele desejava do banco e seus motivos para isso.

A ansiedade (de forma às vezes mais, às vezes menos literal) se manifesta de formas diferentes em cada personagem. Há um casal, por exemplo, cujo “hobby” de aposentados é comprar e reformar apartamentos para vender. Ele lida com a falta de propósito da nova rotina. Ela com o medo de não ter mais conexão com o marido e seu único vínculo ser esse hobby. Os dois ilustram muito bem aquele arrependimento de quando a vida passa e você não realizou tudo que queria ou podia. Quem nunca se perguntou se não estava vivendo seu máximo potencial? 


Outra personagem marcante, ainda que irritante, é Zara. Ela é diretora de um banco, antipática e desagradável, mas, ao mesmo tempo, o autor traz sua angústia para as páginas, amenizando um pouco o efeito negativo da sua personalidade. Zara também tem alguns dos melhores diálogos e sua acidez rende frases bem engraçadas. 

Encontramos representatividade LGBTQIA+ no casal lésbico formado por Julia e Ro. É claro que vale uma menção honrosa a Estelle, uma senhora que perdeu o marido e foi à visitação do apartamento na tentativa de não se sentir tão sozinha na época do final de ano.

Os policiais responsáveis pelo caso, Jack e Jim, não ficam para trás, tendo seus próprios dramas desenvolvidos. Os motivos pelos quais Jack virou policial são bem comoventes e é nítido que ele passa a vida tentando fazer o melhor possível para salvar quem está ao seu redor – ainda que isso não dependa dele. Como todo pai deveria fazer, Jim se preocupa com o sofrimento do filho e que sua vida fique paralisada por essa pressão que ele coloca em si mesmo. Os dois brigam em diversos momentos da narrativa por serem obrigados a trabalhar juntos em um caso complexo e nesses momentos o leitor percebe os sentimentos não ditos entre os dois.


Ao longo das páginas, o leitor se depara com os pequenos tiques de cada personagem que denunciam sua ansiedade (um tensiona os dedos dos pés, outro esfrega a ponta dos dedos) e aos poucos as preocupações de cada um deles chegam à superfície. Por mais que existam assuntos pesados como a depressão e o suicídio, o livro lida os aborda com muita leveza, sem deixar de lado a importância de cuidar da saúde mental. Os medos dos personagens são relacionáveis e, ainda que não na mesma medida, muitos de nós provavelmente nos identificaremos com eles, pois são medos humanos. Medo de não ser bom o suficiente para determinada função, remorso por uma culpa do passado, pressão para dar conta de todas as responsabilidades da vida adulta e a solidão de enfrentar o mundo sozinho. Gente Ansiosa é sobre isso e também sobre empatia, criação de laços e amizades surgindo dos lugares mais inesperados.

Eu adorei a leitura! Minha expectativa era alta, mas o livro conseguiu ir muito além do que eu esperava.

Amei demais!


Um pouco sobre o autor:
Fredrik Backman é jornalista e escritor. Nasceu em 1981, na cidade de Estocolmo, Suécia. Seus livros publicados no Brasil são:

  • Um Homem Chamado Ove
  • Gente Ansiosa
  • Beartown
  • Britt-Marie Esteve Aqui
  • Minha Avó Pede Desculpas
Comentários
2 Comentários

2 comentários :

  1. Oi Ivi,
    o jeito que somos APAIXONADAS por esse livro aqui... hahaha <3
    que bom saber que você também se impressionou. fiquei totalmente encantada com todos os personagens e queria ter acompanhado todos por mais tempo depois que acabei. adorei a resenha!
    Beijos, Fantasma Literário

    ResponderExcluir
  2. Olá Ivi,
    Que resenha incrível e completa. Esse é um livro que tenho lido muitas indicações também e que tem me deixado cada vez mais curiosa para ler. No geral não gosto de ler livros no hype por medo da decepção, mas adoro as várias formas de representatividade que parece haver na leitura e você só me confirmou isso com essa resenha incrível.

    Beijo!
    www.amorpelaspaginas.com

    ResponderExcluir

Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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