Tampa (Alissa Nutting)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Ficha Técnica:
Nome Original: Tampa
Autora:  Alissa Nutting
País de Origem: Estados Unidos
Tradução: Maira Parula
Número de Páginas: 320
Ano de Lançamento: 2014
ISBN-13: 9788532529329
Editora: Rocco

Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 87º livro lido em 2019 e foi Tampa (Alissa Nutting). Peguei a indicação deste livro no canal da Cláudia Lemes, uma das minhas autoras nacionais favoritas. Achei a premissa do livro curiosa, instigante e parti para a leitura.

O livro nos traz Celeste Price, uma mulher de 26 anos, casada com Ford, um policial oriundo de uma família com posses. Celeste começa o livro se preparando para trabalhar como professora na escola Jefferson, que atende crianças do Ensino Fundamental 2. Ela é professora de inglês e está animada com seu novo trabalho, não pelo trabalho em si e sim porque Celeste é uma mulher com impulsos sexuais doentios: ela se sente intensamente atraída por garotos na faixa dos 13 e 14 anos. Celeste tem completa aversão pelo marido, geralmente se droga para conseguir suportar a intimidade do casamento e para manter o relacionamento, porém, quando se trata de meninos, ela é praticamente incontrolável.


O ano letivo começa e Celeste vislumbra entre os alunos quem poderia saciar a sua vontade insana de ter relações sexuais com meninos e logo descobre Jack Patrick, um aluno tímido, discreto e que ela acredita ser o par perfeito para satisfazê-la. Com manipulação e muita ousadia, Celeste seduz Jack e o livro se desenvolve no que poderia ser um namoro para ele, mas para ela, é tudo o que sempre quis na vida.

Celeste tenta ao máximo se assegurar que não descubram o relacionamento, então articula todos os encontros com Jack de forma que não possa ser seguida ou rastreada e também o orienta nesse sentido, mas como ele se apaixona e visualiza um futuro normal entre os dois, os problemas começam a surgir.

O enredo me fez lembrar Lolita, claro, com muitas diferenças. A questão da manipulação emocional é bem parecida porque Celeste envolve Jack de uma maneira que o faz acreditar que o relacionamento deles é legítimo, mas não pode ser expressado em público porque as pessoas não entenderiam. Celeste é tão mentalmente afetada que sabe o quão errada ela é, mas, ainda assim, investe cada vez nessa relação que para ela é apenas uma compulsão física, mas que para Jack é amor.


As cenas sensuais do livro são extremamente gráficas e por isso muito desconfortáveis porque sabemos que a relação descrita é entre uma mulher e uma criança e isso é muito incômodo. Celeste quer ser saciada e manipula Jack de forma que ele acredita que ela sente o mesmo por ele. Conforme as consequências desta relação começam a surgir, ele tem chances de entender quem é Celeste.

Ao contrário de Lolita, este livro tem uma linguagem simples, fluida e em muitas cenas, bem vulgar. O texto é direto e quase nos faz acreditar que Jack entende a seriedade do que está acontecendo, mas a protagonista é tão louca que é impossível apoiar ou torcer para que este relacionamento venha a prosperar.

Eu li o livro muito rápido, em menos de 24 horas, porque realmente a narrativa é rápida e envolvente, mas também porque eu passei grande parte do livro torcendo para que as atitudes de Celeste fossem descobertas. O ambiente de Jack é vulnerável, ele mora com o pai e tem poucos amigos, isso o deixa inseguro e propenso a ser abusado, essa realidade aumenta conforme a narrativa avança.


Eu fiquei bem chocada com a história e quando terminei o livro, procurei algumas referências e descobri que o enredo foi baseado em uma história real de uma professora que no estado da Flórida, que havia sido presa por manter relações sexuais com um garoto de 14 anos e acusada por outros meninos da mesma faixa etária. Esse tipo de enredo nos faz pensar no quanto o tema é pertinente quando pensamos em pedofilia e como sempre a associamos a homens abusando de crianças, nunca uma mulher. As estatísticas nos levam a esta conclusão, porém, acredito que a grande maioria de meninos e meninas que foram abusados por mulheres não denunciam, parte disso pelo machismo, uma vez que uma mulher se interessando por um garoto é praticamente um troféu para ele, ainda que isso deixe marcas emocionais irreversíveis.

O livro tem um ponto positivo bem bacana. Por Celeste ser professora de inglês, o assunto de suas aulas é literatura e muitos livros interessantes são discutidos com os alunos. O Senhor das Moscas e Um Sol é Para Todos são dois exemplos de literatura universal citados nas aulas, mas Celeste utiliza essas narrativas para envolver, seduzir e manipular os garotos.

Apesar do desconforto da leitura, é um livro interessante, corajoso e muito ousado. Mais que isso, nos leva a pensar no quando a pedofilia pode estar perto de nós, mas que em função do machismo, acreditamos que não.

Eu gostei!


Um pouco sobre a autora: A norte-americana Alissa Nutting é professora-assistente na John Carroll University e vive em Ohio, nos Estados Unidos, com o marido, a filha e dois cachorros. No Brasil, Tampa é o seu único livro publicado.

Comentários
4 Comentários

4 comentários :

  1. Olá, tudo bem? Gente, que premissa mais diferente, nunca li nada parecido, haha. Não conhecia a obra ainda, mas não tenho dúvidas de que seja uma história chocante. Adorei a resenha!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  2. Olá...
    Ainda não tinha ouvido falar desse livro, mas, ao ler sua resenha fiquei impressionada com o quão pesada ela é. Acho que me sentiria muito desconfortável ao ler, principalmente sabendo que é baseado num fato real, por isso, prefiro passar a leitura...
    Bjo

    http://coisasdediane.blogspot.com/

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  3. Eu leio muitas coisas na minha vida, diversos gêneros diferentes e já encarei histórias que me deixaram nauseada e destroçada. Todavia, ainda não tenho estômago para um livro como esse. Vários anos atrás eu tive aqui em casa o livro "Lolita", mas me desfiz dele sem ler, pelo mesmo motivo. São histórias muito pesadas e tão próximas do que de fato acontece na vida real, que acabo não conseguindo ler. Eu passaria mal.

    O fato de ser uma mulher que comete os abusos para mim torna tudo pior. Sempre sinto um ódio maior quando vejo crimes contra crianças serem cometidos por mulheres. Sinto como se fosse uma dupla traição: a criança não só é traída por outro ser humano, mas também por um ser humano que é mulher, que tem a capacidade de gerar uma vida (seja ela mãe ou não, tenha ela optado por ter filhos ou não), mas que optou por destruir a vida de uma criança. As crianças tendem a confiar mais nas mulheres e essa quebra de confiança é dura demais. É o mesmo de nós mulheres sermos traídas por outras mulheres, como acontece quando vemos tráfico de mulheres nos quais houve a participação ativa de outras mulheres, é uma traição muito grande.

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  4. Não conhecia esse livro, mas eu adorei a premissa. Fico feliz em saber que a leitura foi fluída e que você leu rapidinho. Já adicionei esse livro na minha listinha de desejados e espero ler em breve :D

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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Ivi Campos

48 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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