DEZENOVE MINUTOS (Jodi Picoult)

sexta-feira, 27 de junho de 2014


Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 26º livro lido em 2014 e foi DEZENOVE MINUTOS (Jodi Picoult). Tempos atrás eu descobri que um filme que eu havia gostado muito tinha sido baseado em um livro desta autora. Porém este livro ainda não tinha sido publicado no Brasil. Mesmo assim, procurei outros títulos dela e acabei ganhando este aqui no meu aniversário. Desconhecia a sinopse, não sabia qual eram as características de escrita dela, mas algum instinto de leitora compulsiva me avisava que eu ia gostar...

O livro nos traz uma premissa desgastada e assustadora na realidade americana: um adolescente entra em uma escola e sai atirando nos alunos, funcionários e professores que estiverem na sua frente. Como em casos conhecidos na realidade, o atirador foi vítima de bullyng e naquele dia, decidiu se vingar de toda a maldade que faziam contra ele, sendo assim, ele mata 10 pessoas e fere brutalmente mais 19, mas aí temos um diferencial da vida real para com a ficção do livro: o atirador não se mata ao final do massacre, a polícia consegue prendê-lo e o livro basicamente vai se desenvolver sobre o inquérito e ter o seu desfecho no julgamento.

As primeiras páginas do livro são confusas, vários trechos nos dando a introdução sobre os personagens principais, porém já no início da narrativa somos espectadores da barbárie cometida por Peter Hougnton e tudo a partir disso é escrito de forma quase poética, apesar de ser impactante e em alguns momentos assustadora. E ainda que a premissa seja desgastada e o início confuso, o livro é incrível!!!

Peter sofreu com o bullyng na escola desde o jardim de infância e somado à isso, ele tinha um irmão mais velho perfeito, logo, seus pais inconscientemente acabavam fazendo comparações entre ele e o irmão e, Peter cresceu desenvolvendo uma auto estima extremamente negativa sobre si mesmo. Quando criança, ele tinha uma amiga que chegou a defendê-lo com ardor das crianças que implicavam com ele, a Josie e, eles mantiveram a amizade até que Josie é seduzida pelos adolescentes populares do colégio e acaba se afastando de Peter, mais que isso, ela agora faz parte do grupo que age contra ele.

O livro se divide entre presente e passado e entre uma coisa e outra, conseguimos conhecer Peter intimamente. Da mesma forma, sabemos quem é a Josie e quais seus motivos para evitar a amizade com Peter. Esses dois personagens são tão vivos e incrivelmente tão bem descritos na história que eu confesso que até o tom de voz de cada um deles eu saberia reconhecer.

Apesar dos assassinatos, foi impossível não humanizar o Peter, não se compadecer dele, não amá-lo como ele era. Foram tantas humilhações e violências sobre ele, tantos momentos onde ele era diminuído e açoitado como ser humano que a minha vontade era me aproximar dele, abraçá-lo e dizer que tudo ia ficar bem. E não só me envolvi com ele em função do seu sofrimento: Peter é inteligente, possui diálogos originais, é uma pessoa interessante. Em contrapartida, encontramos Josie se acovardando mediante uma amizade pura, fiel, verdadeira para ser aceita por um grupo de adolescentes superficiais, ignorantes e despreparados para serem humanos.

No massacre, Josie é uma sobrevivente, nem sequer se feriu, ainda que estivesse ficado frente a frente com o assassino. Ela estava com Matt, o namorado dela que era um dos perseguidores de Peter, quando este os encurrala no vestiário e ela assiste Matt morrer e então ela não se lembra dos momentos finais até Peter ser pego pela polícia. 

Sabemos que é impossível para Peter ser absolvido, afinal, foram 10 mortos e nem todo bullyng do mundo é capaz de justificar essa violência, mas eu me vi torcendo por ele, eu me vi em vários momentos da narrativa, tentando imaginar um final menos corrosivo do que ele ser condenado a prisão perpétua e quando surpresas são reveladas no fim do julgamento, quase enlouqueci de emoção e ansiedade.

Eu adorei o livro. É uma história forte, triste, violenta, mas escrita de uma maneira tão bonita que quando terminei de ler, fechei o livro e o abracei, acho que num gesto estranho de querer abraçar os personagens.

Além de Peter e Josie, as pessoas que fazem parte do dia a dia, tanto do inquérito, como no passado, são muito bem construídos. Os pais de Peter que o amavam intensamente e nem desconfiavam que a dor do filho pudesse culminar em uma tragédia assim. A mãe de Josie, uma mulher forte, inteligente e que deixou a vida afastá-la da filha. O advogado de defesa de Peter, tão humano e perspicáz e o detetive policial que ganha a cena em várias páginas com diálogos inteligentes e justos.

Enfim, o livro é uma verdadeira obra de arte. Eu já li vários livros em que o bullyng é usado como pano de fundo, mas nenhum que tenha sido tão intensamente explicado. Já li tantas histórias de adolescentes sendo abusados emocionalmente, mas nenhum que me fez amar tanto o personagem. Esta é uma história que merecia ganhar mais espaço dentro das escolas, o assunto deveria ser mais debatido de forma que o bullyng acabasse sendo punido com mais vigor e justiça. O livro é forte, mas muito atual e um debate inteligente sobre sua temática seria de um ganho grandioso para uma geração que acredita que ser popular, é mais importante que ser verdadeiro.


O livro é recheado de quotes ótimos e mais que isso, algumas pequenas explicações sobre diversos assuntos que já ouvimos falar e que nem sempre conseguimos opinar. Foi complicado escolher apenas um para colocar na resenha.

Super recomendo, com certeza, foi um dos melhores livros que eu li este ano.
A felicidade não era apenas o que você relatava, era também como você escolhia lembrar. página 254
O júri não é composto de esposas espancadas, mas já as absolveu em várias ocasiões. Por outro lado, cada membro daquele júri já passou pelo ensino médio. Você sabia que um único incidente de bullyng na escola pode ser tão traumático para uma pessoa ao longo do tempo quanto um incidente de abuso sexual? página 351

Um pouco sobre a autora: Jodi Picoult nasceu e cresceu nos estados Unidos. Estudou Inglês e escrita criativa na Universidade de Princeton e publicou dois contos na revista Seventeen enquanto ainda era estudante. Aos 38 anos é autora de onze best sellers. No Brasil, os seus livros publicados são: 
  • O Pacto
  • Uma Questão de Fé
  • O Filme Perfeito
  • A Guardiã da Minha Irmã
  • A Menina de Vidro
  • Piedade
  • Um Mundo À Parte
Comentários
8 Comentários

8 comentários :

  1. Esses livros que envolvem Bullyng sao realmente tristes e intensos e sempre te deixam na indecisão..
    Conhecendo o personagem e pelo oque ele passou você se apega e realmente toma raiva mas muitas vezes as medidas tomadas são drásticas..

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  2. A resenha foi bem conclusiva e eu gostei muito sobre o que falou o livro.

    Já li alguns que também tratam do aspecto, mas de um modo onde no fim a pessoa consegue superar e ser ainda mais do que os outros pensavam. Ainda não tinha visto um assim onde já vem falando no caso, que a pessoa não aguentou mais e decidiu se rebelar. É realmente difícil se decidir num tempo destes, ou você fica do lado da pessoa que esta sofrendo ou você olha o lado dos outros personagens que perderam a vida.
    ótima resenha Ivi.
    bjos

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  3. Noosssaaa,
    esse livro é beeeeeeeeeeeeeemmmm intenso
    e infelizmente é uma realidade!
    Uma mente perturbada e sofrida é capaz de muitas coisas... Mas acredito que para toda uma ação, existe uma reação!

    Beijinhos
    Sou eu... Pri!

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  4. Fujo desses livros que envolvem bullying, por ter experiência próxima com isso.
    Então passo, mas é revoltante que por mais que passe anos, nenhuma medida para conter o bullying é realmente tomada, e quem o comete não se importa com o mal que tá fazendo, infelizmente vemos o relato depois de pessoas inocentes arcando com tudo isso :(

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  5. É uma ótima temática o livro, a ideia que deve se passar também.
    Eu leria mesmo para entender a capa (se ela tiver mesmo alguma relação com o livro, pois muitas vezes não tem), e eu também ainda não tinha lido algo do tipo, que no caso isso tudo já aconteceu nos EUA, e é um ótimo modo de entender os sentimentos de alguém que passa por isso.

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  6. O livro deve ser totalmente intenso, o assunto é pesado e forte, chamando atenção para algo que já aconteceu.

    Mas entender por dentro, como que aquilo surgiu e porque também te leva a pensar em cada personagem, e a mudança que ocorre na vida de cada um que perdeu alguem.

    Adorei a resenha.

    xoxo

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  7. Parece ser um livro muito emocionante e triste.
    Triste para quem sofre o bullying e para quem sofreu as consequências de seus atos depois.

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  8. Terminei de ler esse livro ontem e fiquei completamente apaixonada pela escrita da autora, eu me prendi ao livro no primeiro paragrafo, os personagens são cativantes, onde o vilão é um mocinho e os mocinhos são vilões, como vc citou por mais que a gente saiba que não tem como o Peter sair impune pq foram tantas mortes e tantos feridos a gente torce pra que algo aconteça de bom com ele já que toda sua vida é tão triste. Não tenho palavras pra dizer o que senti ao ler esse livro, é maravilhoso.

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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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