Tereza Batista Cansada de Guerra (Jorge Amado)

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Ficha Técnica:

Nome Original: Tereza Batista Cansada de Guerra 
Autor: Jorge Amado
País de Origem: Brasil
Número de Páginas: 472
Ano de Lançamento: 1972
ISBN-13: 9788535912913
Editora: Companhia das Letras
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Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 57º livro lido em 2021 e foi Tereza Batista Cansada de Guerra (Jorge Amado). Desde o meu primeiro contato com o autor, tenho sede de suas histórias e tinha muita curiosidade em ler essa em particular, por ter sido uma minissérie de grande sucesso na minha adolescência.

O livro nos traz Tereza que ficou órfã muito cedo e passou sua curta infância com uma tia. Foi uma criança livre, gostava de correr e subir em árvores. Com seus colegas, aprendeu que um bom guerreiro não chora. Aos doze anos, ela foi vendida ao Coronel Justiniano por uma quantia irrisória e um bracelete barato. Seu tio foi contra a venda, não por um gesto altruísta, mas por desejar ser o primeiro homem da garota. Sabendo que sua esposa conhecia suas intenções, não se atreveu a falar nada.


Já neste momento, o autor sinaliza a falta de alternativa de Tereza. Era condição que ela perdesse a infância, pois se o Coronel não a desvirginasse violentamente, o tio o faria, fazendo-a perder também a chance de ser uma mulher dona de suas próprias escolhas. Ela é coisificada e pela dimensão da violência deste processo, é obrigada a aceitar esta condição.

Na casa do Coronel “Justo”, Tereza viveu um verdadeiro inferno: a começar na sua chegada, na condição de “coisa sexual”, depois de resistir bravamente ao primeiro estupro, continua a ser violentada sistematicamente. A descrição detalhada do autor destas violências sexuais causa angústia, raiva e impotência no leitor, sensação esta que nos faz refletir sobre a nossa condição como participantes desta sociedade, que carrega as injustiças contra qualquer mulher embaixo de um pano fino. 

Tereza foi escrava sexual por cerca de três anos até ser seduzida por Daniel, jovem boêmio, sem caráter, muito semelhante fisicamente ao anjo pendurado na parede do quarto do Coronel, que presenciava toda a violência cometida contra a menina. Por Daniel, Tereza foi capaz de matar o Coronel quando ele descobriu a relação dos dois e humilhou o rapaz. 

Neste momento, o autor nos revela que o Coronel não conseguiu anular a coragem da menina, agora mulher, com as surras e os estupros. A coragem lhe era inerente, só ficou adormecida por um tempo e despertou na primeira oportunidade.


Quem libertou Tereza da prisão, já que ela matou o Coronel na presença de Daniel que a denunciou acusando-a covardemente (pois nós leitores sabemos que ela o fez para salvá-lo), foi o Coronel Emiliano. Este já havia se encantado pela menina quando lhe fez uma visita ao agora falecido Justo e tentou “comprá-la” na ocasião, sem sucesso. A menina viveu durante seis anos na condição de amante do Coronel Emiliano, ele a colocou numa casa, lhe deu vestidos, contou-lhe uma porção de coisas e ensinou-lhe a ser uma “senhora”. Porém nunca fez dela sua esposa, pois as “mulheres de família” suportavam as “protegidas” dos Coronéis por medo e respeito a eles, sua condição de “mulher da vida” a acompanharia para sempre, como uma sombra.

O Coronel Emiliano reproduziu a mesma lógica de todos os Coronéis com Tereza, inclusive a do Coronel Justino, o vilão do primeiro capítulo. Mas pela primeira vez, a menina que perdeu a infância foi tratada com carinho, já que ele fez o papel de pai e amante. Este fato, em contraste com os momentos vividos com o outro primeiro Coronel, aliviou a culpa dele.

O contraste também se faz presente na estrutura do texto, que nos transporta para dois momentos respectivamente: ora descrevendo os momentos de felicidade de Tereza ao lado do coronel Justino, ora o desfecho da morte deste e o sofrimento da perda por Tereza, aliado a chegada da família, que o Coronel dizia nunca tê-lo amado. Neste momento, nossos guias são as lembranças da menina, pois o autor nos faz enxergar o Coronel pelos olhos da personagem.

Tereza instalou-se numa cidadezinha e lá trabalhou como prostituta. Logo conheceu um médico e mudou-se para uma cidadezinha do interior quando ele foi promovido. Em meio à tranquilidade da saúde na cidade, houve um surto de Bexiga Negra e o médico que permaneceu por pouco tempo no local recebeu a ajuda de Tereza, que neste curto período aprendeu um pouco sobre a doença e o tratamento. Quando o médico fugiu, num ato covarde por medo de contrair a doença, assim como fizeram as autoridades da cidade (sobraram apenas os mais pobres, que não tinham como fugir), Tereza ficou para tentar amenizar o problema. O autor a descreve como uma guerreira, que mesmo diante de tão heróicos feitos é condenada pelas más línguas da cidade devido ao seu passado e sua condição. O autor nos mostra a dificuldade de aceitação de uma mulher que foge das regras da sociedade, por condição ou escolha.


Conhecemos Tereza Batista por meio da memória, a mulher forte e inteligente é fruto de uma vida de violências físicas e psicológicas de uma sociedade machista, limitadora, patriarcal, injusta, desigual e muito violenta. Tereza pagou o preço por nascer mulher, negra, bonita e pobre, mas não desistiu, não se rendeu e venceu a guerra, cujas batalhas tão violentas fazem com que nós leitores duvidemos que seria possível vencê-la. Tereza perdeu o medo de apanhar, de sentir fome, de ser sozinha e talvez tenha sido isso que a fez querer enfrentar este monstro que é a sociedade, apresentando-se a ela na figura de um coronel, de uma doença (Bexiga Negra), da prisão, da lei, a mulher sem infância a enfrentou e mesmo diante de tanto sofrimento e desilusão, não perdeu a capacidade de amar.

É um livro forte, bem escrito, violento e muito relevante. Mesmo sendo escrito há tanto tempo, traz a história de uma mulher que representa fragmentos da história de muitas mulheres que precisam de transformação. Já imaginava que gostaria do livro, mas foi muito além disso, foi uma leitura visceral, arrebatadora e muito emocionante.

Adorei!!!


Um pouco sobre o autor:
Jorge Amado é um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Sua obra literária foi adaptada para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille. Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira. Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa. 

Alguns de seus livros publicados são:

    • Tieta do Agreste
    • Gabriela, Cravo e Canela
    • Teresa Batista Cansada de Guerra
    • Dona Flor e Seus Dois Maridos 
    • Tenda dos Milagres
    • Mar Morto 
    • Capitães de Areia
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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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