O Ódio Que Você Semeia (Angie Thomas)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

FICHA TÉCNICA
Nome original: The Hate U Give
Autora: Angie Thomas
Tradução: Regiane Winarski
País de origem: Estados Unidos
Número de páginas: 378
Ano de Lançamento: 2017
ISBN-13: 9788501110817
Editora: Galera Record

Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 81º livro lido em 2018 e foi O Ódio Que Você Semeia (Angie Thomas). Quando este livro foi lançado e todo o burburinho sobre ele se levantou, confesso que não me interessei muito. Embora o tema seja pertinente e eu tenha ficado curiosa, não pretendia ler. E então eu vi o trailer da sua adaptação para o cinema e fiquei muito impressionada e curiosa para fazer a leitura antes de ver o filme. E já adianto que me condenei intensamente por não ter lido o livro antes.

O livro nos traz a Starr, uma adolescente negra que mora na periferia com sua família. Seu pai já foi preso por ter assumido o crime de outra pessoa e apesar de todos ao seu redor serem honestos e muito legais, moram em um bairro que está infestado de gangues envolvidas no tráfico e violência, o que acaba reafirmando o estereótipo que negros e bandidos é algo comum. Apesar dessa realidade do dia a dia da Starr e da sua consciência de quem ela é, ela estuda em uma escola particular fora do seu bairro em que a maioria dos alunos é branca e lá ela pode ser uma outra pessoa, sem as preocupações e responsabilidades que tem em casa e no seu bairro. 

Até que um dia ela vai em uma festa, reencontra um amigo de infância, o Kalil, e pega uma carona com ele para casa. No caminho, o carro é parado em uma fiscalização de trânsito e o policial acaba sendo bem hostil com Kalil, quando ele é retirado do carro e se volta para saber se a Starr está bem,  é baleado pelo policial e morre nos braços da Starr. Além da perda e do trauma que toda a situação causou nela, Starr ainda tem que repensar se deve ou não testemunhar contra o policial, tendo a consciência que sua versão pode ser desqualificada pelo simples fato de ser negra.

O livro então irá se desenvolver sobre este conflito. Todo o bairro de Starr fica revoltado com a morte do menino e o caso ganha grande repercussão levando em consideração que o policial agiu de forma errada. E no decorrer disso, entendemos aos poucos a realidade da protagonista e legitimamos seus medos, bem como suas motivações para tentar agir da forma correta.

O livro é muito intenso. Apesar da linguagem fluida e da intimidade que a autora cria com o leitor, sabemos que estamos lendo um enredo pertinente, forte, que precisa ser refletido e discutido. Os personagens são muito bem desenvolvidos. Os pais de Starr são pessoas muito críveis e é fácil se identificar com seu discurso, mesmo que não vivamos essa problemática. O pai de Starr tenta a todo momento ser um exemplo e apesar do passado complicado, faz questão que os valores e princípios sejam praticados a todo momento pelos filhos. Starr tem dois irmãos, cada um com seu arco próprio e podemos ver o quanto o racismo é tóxico para quem tem que enfrentar essa luta todos os dias.

Quero dar um enfoque especial para a parte romântica do livro que sem dúvida, não é o foco principal da narrativa, mas o namorado de Starr, Chris, é um personagem apaixonável. Ele não é negro e algumas vezes precisa que a Starr explique melhor seus sentimentos quanto ao fato dos dois não serem iguais, mas é presente e carinhoso em todos os momentos, sabe que embora a luta não seja dele, é necessário ter empatia para entender a situação.

A experiência de leitura foi muito boa para mim. Do primeiro ao último parágrafo, me senti imersa no enredo e alternando momentos de melancolia e leveza, toda a história agregou significativamente para mim.

O livro traz a oportunidade de pensarmos no racismo e em suas várias formas de manifestação. Muitas vezes criticamos programas de cotas e achamos que é “mimimi” quando algum negro é vítima deste crime, porém é preciso entender que não falar sobre o assunto não fará a problemática acabar. Vez ou outra vejo pessoas criticando as políticas sociais que privilegiam os negros em determinadas situações, sem assumir com responsabilidade a vida inteira de privilégios que sempre teve. Ouço sempre pessoas falarem que não faz sentido o discurso de dívida histórica para uma geração que não viveu a escravidão e toda a subvida que todo um povo foi obrigado a viver.

Falta empatia para a minha geração e o fim do racismo é colocar em prática que as pessoas não podem ser classificadas por sua cor. Isso pode ser natural para mim e para você que está lendo essa resenha, mas não podemos nos enganar que vivemos em um mundo racista e que em nada evoluiremos enquanto humanidade enquanto isso existir.

Este livro traz essa reflexão de forma séria e relevante, pensar neste assunto através de um enredo tão forte e ao mesmo tempo, gostoso de ler, é um prazer.

Este é aquele tipo de livro que deveria ser leitura obrigatória nas escolas, com intuito de gerar uma discussão inteligente sobre o tema.

Enfim, adorei a leitura e recomendo. Não é apenas um livro bem escrito e com uma história boa. É um livro necessário.

Leiam!!!


Um pouco sobre a autora: Angie Thomas nasceu e foi criada em Jackson, no Mississippi, o que se percebe pelo seu sotaque. Quando adolescente, era rapper e sua maior conquista foi ter escrito um artigo sobre si mesma na Revista Right On. É bacharel em escrita criativa pela Belhaven University e possui um diploma não oficial em Hip Hop. Ela ainda sabe fazer rap, se for preciso. Seu livro de estreia, O Ódio Que Você Semeia, foi o primeiro a vencer o Walter Dean Meyers Grant, em 2015, na categoria We Need Diverse Books. O romance foi adaptado para o cinema, pela Fox, e chegou ao primeiro lugar da lista do New York Times na semana de seu lançamento.
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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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