A Pérola que Rompeu a Concha (Nadia Hashimi)

sexta-feira, 9 de novembro de 2018


Ficha Técnica:
Nome Original: The Pearl That Broke It’s Shell
Autora: Nadia Hashimi
Tradução: Simone Reisner
País de Origem: Estados Unidos
Número de Páginas: 448
Ano de Lançamento: 2018
ISBN-13: 9788580417555
Editora: Arqueiro

Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 67º livro lido em 2018 e foi A Pérola que Rompeu a Concha (Nadia Hashimi). Li a resenha deste livro em um blog e na hora fiquei master interessada na leitura do livro. Como sou muito fã do autor Khaled Hosseine e ele mesmo indicou a leitura do livro, parti para esta história sem medo de errar.

O livro nos traz a Rahima que é uma jovem menina de uma família de cinco irmãs mulheres e nenhum homem. Seu pai é viciado em ópio e sua mãe praticamente não tem voz, pois nunca é ouvida. Para ajudar a mãe com tarefas que o pai não ajuda por conta do vício, a tia de Rahima dá a ideia de a menina adotar um antigo costume afegão, o bacha posh, que faz com que ela se “transforme” em um menino até a puberdade, momento em que ela deve voltar a ser menina e conseguir um marido. Assim, por um tempo, tudo fica bem para ela porque ao contrário das irmãs, ela pode ir à escola, algo que é proibido às meninas no Afeganistão durante o período do Talibã, regime que assolou cruelmente todas as mulheres do país. Mas as coisas na casa de Rahima acabam piorando cada vez mais e, aos treze anos, ela é forçada a deixar o costume e se casar com um homem perigoso e muito mais velho que ela.

O livro também traz a história da trisavó de Rahima, Shekiba. Esta quando era uma menina novinha teve seu rosto desfigurado por conta de um acidente doméstico passando a ser motivo de piada e nojo. Ainda jovenzinha, ela teve toda a sua família dizimada pela cólera, passando a viver apenas com o pai e este também faleceu, obrigando Shekiba a viver na casa de sua avó paterna, uma mulher malvada, que a hostilizava e fez dela a empregada de toda a casa. Em uma tentativa para recuperar a casa do pai, ela é mandada embora da casa da avó e então vem a oportunidade de uma vida um pouco melhor, pois ela usará o costume bacha posh para se vestir de homem e trabalhar como vigia no palácio do rei.

Este é um livro que fala sobre ser mulher em um país que desprezava mulheres. Tanto Shekiba quanto Rahima são desprezadas pelo que são, as oportunidades são escassas e a violência é legitimada por um governo que autoriza homens a serem violentos e abusadores. O livro enfatiza muito bem este costume antigo para mostrar o quanto um ser humano tem muitos privilégios apenas por ser homem e a cada capítulo lido, eu me sentia muito desconfortável com toda a situação.

Tanto Rahima quanto Shekiba, ainda que separadas por muitos anos, tem uma história igualmente complicada ao tentarem sobreviver ao sistema. O livro é recheado de cenas muito tristes e uma em especial me deixou péssima ao ler. Tive que pausar a leitura para me recuperar de um choro intenso por causa de uma perda na história. Todas as vezes em que as protagonistas eram subestimadas e recebiam castigos físicos, me cortava o coração porque embora seja uma ficção, sabemos que existem muitas mulheres em situações semelhantes ao redor do mundo. Aliás, não precisamos ir muito longe para ouvir discursos machistas, inferiorizando a mulher e a negativando com ser humano.

Foi um livro tenso, denso e intenso, mas uma leitura muito satisfatória. Eu imaginava que me emocionaria ao ler, mas, ainda assim, meu sentimento foi ainda mais profundo ao concluir a leitura, ainda que o final seja suavizado por boas expectativas para Rahima, ainda ficou aquele gosto amargo de que existe muita coisa a se fazer para que desigualdades de gênero como a exposta no livro sejam sanadas no mundo.

Para quem gosta de drama ambientado em uma cultura diferente da nossa, o livro é perfeito. Os costumes do Islã, bem como comidas e hábitos diários são descritos com delicadeza e respeito e em momento algum se questiona a religião que vigora, o que é contestado é o regime político que se aproveitou da fé para impor um governo absurdo.

Eu gostei demais da leitura e levarei Shekiba e Rahima para sempre no meu coração, torcendo para que a autora escreva mais histórias tocantes como essa.

Eu amei.


Um pouco sobre a autora: Nadia Hashimi nasceu em Nova York, nos Estados Unidos. Seus pais deixaram o Afeganistão nos anos 1970, antes da invasão soviética, mas ela cresceu cercada por uma família numerosa, que manteve a cultura afegã como parte importante do cotidiano. Em 2002, visitou o Afeganistão pela primeira vez com os pais, e o passado e o interesse pela cultura e pela realidade das mulheres afegãs a motivaram a escrever histórias ligadas ao país. Nadia é pediatra e mora nos arredores de Washington com o marido, quatro crianças curiosas e roqueiras, dois peixinhos dourados e um papagaio-cinzento. A Pérola que Rompeu a Concha é o seu primeiro livro publicado no Brasil.
Comentários
10 Comentários

10 comentários :

  1. Esse livro está na minha lista de desejos a tanto tempo que até havia me esquecido dele e conferir sua opinião resgatou esse desejo de leitura.
    Imagino que assim como foi com você esse livro me deixaria desconfortável com o sistema que rege esse país e toda essa intensidade se deve a sabermos que a premissa dele é realidade em muitos lugares ainda nos dias de hoje. Quero mesmo ler e conhecer Shekiba e Rahima.

    Abraços.
    https://acabinedeleitura.blogspot.com

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  2. Olá!
    Esse livro é muito bonito. Os dramas são bem construídos. Adoro o fato de ter sobre uma cultura que não são todos os autores que conseguem trazer de forma que a leitura fique instigante, mas ao mesmo tempo nos faz refletir sobre como são tão diferentes.
    Reflexivo e necessário. Uma leitura que indico.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  3. Oi Ivi!
    Não conhecia esse livro, mas fiquei muito tocada em ler sua resenha, pois a desigualdade ainda continua em todo o mundo, achei a história emocionante e me cativou, pois sempre tiro lições de leituras como essa, vou anotar a dica para ler, pois fiquei curiosa sobre o desfecho dessa história, obrigado pela dica, parabéns pela resenha, bjs!

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  4. Oi! Acho que já li uma resenha desse livro e lembro que fiquei bem curiosa para o ler. Culturas diferentes podem nos trazer encantamento ou aversão, às vezes até as duas coisas. O encantamento, nesse livro, eu imagino que seria pela força das mulheres. As mulheres reais que passam por isso e ainda assim estão lutando, merecem mais do que nosso respeito, merecem nossa admiração. Todo livro desse tipo tem uma mulher forte, à frente do seu tempo e que luta e defende a mulher. Infelizmente, a cultura da desvalorização da mulher é muito triste! Obrigada pela dica!

    Bjoxx ~ www.stalker-literaria.com ♥

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  5. Não tinha conhecimento desse livro, achei a história dele bem interessante e parece ser bem intensa. Me lembra muito do livro caçador de pipas, achei ele bem intenso e muito triste. Chorei horrores ao ler ele.

    Adorei a sua resenha. Beijos

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  6. Olá!
    Esse livro despertou meu interesse a algum tempo e eu só não o li ainda por pura covardia. Depois de ter lido cidade do sol, me encolho diante da perspectiva de conhecer outra narrativa ambientada nesse universo, sei que no final das contas tais histórias são importantes, mas ainda não consegui reunir toda a coragem de que preciso para fazer essa leitura.

    Abraços!

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  7. Oii Ivi, tudo bem? Mais uma resenha ótima que me deixa curiosa para ler o livro! Já li algumas opiniões sobre o livro, mas só agora a vontade de ler surgiu, e com força. Também sou fã do Khaled, e se ele indicou esse livro... bem, tenho que ler hahha. Espero gostar e me emocionar muito também. Vou preparando os lencinhos e economizando nas lágrimas.

    Beijos!

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  8. Oiee Ivi ^^
    Eu amo tanto esse livro! Achei a história maravilhosa, apesar de muito triste e um pouco pesada, mas as lições que ela traz, e a maneira como tudo vai se resolvendo - apesar dos apesares, fiquei feliz com o final - e tudo o que a autora ensina! Eu não fazia ideia desse costume de vestir as meninas como meninos, mas após este livro e o filme "A ganha pão" - muito bom, recomendo! - passei a me interessar ainda mais por essa cultura.
    MilkMilks ♥

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  9. Olá Ivi, tudo bom?
    Li esse livro recentemente no clube de leitura e gostei muito do que encontrei nele. Não me emocionei tanto quanto nos livros do Khaled, mas ainda assim ele me arrancou lágrimas e me fez repensar muito em como uma situação política pode mudar drasticamente e como ainda falta muito para que todas as mulheres tenham seus direitos reconhecidos.
    Fiquei feliz em saber que leu este livro e gostou! ♥
    Beijos!

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  10. Oi, tudo bem?
    Livros assim são necessários muita das vezes para nos tirar da zona de conforto e rever nossas ideologias. o Islã tem uma cultura que não valoriza a mulher como membro da sociedade, e é necessário ler sobre isso para termos consciência sobre os problemas do próximo, pois empatia é necessária nessa sociedade de plastico. amei a sua resenha e irei anotar a dica.

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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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