GAROTAS DE VIDRO (Laurie Halse Anderson)

segunda-feira, 29 de setembro de 2014


Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 46º livro lido em 2014 e foi GAROTAS DE VIDRO (Laurie Halse Anderson). Desde 2012 quando este livro foi lançado no Brasil eu quero conhecer esta história, mas fui deixando de lado até comprá-lo na última bienal do livro e agora consegui fazer a leitura.

O livro nos traz a Lia, uma garota de 18 anos que acabou de perder a melhor amiga. Cassie e Lia eram amigas desde a infância e depois das duas ficarem um tempo sem se falar, Lia recebe a notícia que Cassie morreu sozinha em um quarto de motel. Lia se sente extremamente culpada porque a Cassie tentou falar com ela antes de morrer, a amiga ligou para Lia 33 vezes e ela ignorou suas chamadas. Porém, embora isso seja muito intenso, não é o maior problema de Lia. Ela e Cassie sofriam juntas de distúrbios alimentares graves. Cassie praticava a bulimia e Lia é uma anoréxica voraz. Já esteve até internada em função de não se alimentar. Mas a morte de Cassie desencadeia em Lia mais outra avalanche de problemas e, aliado á sua dificuldade de autoimagem, ela ainda começa a ter alucinações vendo a amiga Cassie em várias situações, interagindo com ela em algumas e tentando ignorá-la em outras. Cassie se sente sozinha "do outro lado" e está disposta a convencer Lia a lhe fazer companhia.

O livro é chocante. Narrado em primeira pessoa, sob o ponto de vista da Lia, fiquei várias vezes assustada com a forma como ela pensava. Lia é submetida  à uma constante averiguação da família para que ela ganhe peso. A madrasta obriga Lia a se pesar semanalmente e anota o resultado da balança em um caderno, porém Lia dribla essa conferência. Ela desenvolveu mecanismos para que as pessoas não percebam que ela continua emagrecendo e isso é muito impressionante de ser lido, sentido, visualizado. A personagem está com 42 quilos distribuídos em um corpo de 1,65 metros e ainda assim se sente nojenta por estar gorda e a autora administra o tema com tanta seriedade que você percebe que se trata realmente de um problema psicológico, não apenas por causa das alucinações com a amiga, mas porque ela não pretende ser bonita ou feliz, ela quer apenas ser magra e esse objetivo é inalcançável sob a sua perspectiva porque ela nunca está magra o suficiente.

Além dos dribles para com a inspeção de seu peso, ela cria determinadas situações para que as pessoas acreditem que ela está comendo e é tenso ver que ninguém acredita de fato nela, mas tenta tratá-la como uma garota normal.

Os personagens ao seu redor são dignos de piedade. Os pais são separados e a mãe sendo médica se sente uma inútil por não conseguir impedir que a própria filha morra de fome. O pai, em um novo relacionamento, se esforça para que a vida seja normal, mas se afasta sempre que possível. Jennifer é a madrasta que tenta não entrar no padrão de chata e malvada, mas que está cansada de tentar cuidar de alguém que não é capaz de se amar e por fim, temos a Emma, a irmã caçula de Lia, filha do novo casamento do pai. Uma criança linda, carinhosa, que ama Lia apaixonadamente e que desperta em Lia bons sentimentos.

O livro é tenso do começo ao fim. Lia conta as calorias do ar que respira e repete a si mesma a todo momento que não pode comer e assim, a vida vai fugindo dela, como uma luz que se apaga lentamente conforme sua bateria se consome.

A escrita da Laurie é incrível. Ela escreve para assustar o leitor, mas sem violência. Ela faz você sentir frio e fome com descrições tão precisas, porém objetivas das sensações que a personagem tem e assim, você se sente um pouco doente ao ler o livro. 

Foi um livro difícil de ser lido, mas ao mesmo tempo, muito bom. Um livro que conta uma história forte, humana e crível e ainda assim, na minha opinião, fala sobre algo que não consigo compreender totalmente. 

Não é um livro para qualquer leitor e talvez a leitura não funcione para todos, mas sem dúvida, um livro que merece uma chance na lista de leituras de pessoas que acreditam que anorexia ou bulimia se trata apenas de frescura ou de pretensões em estar dentro do padrão que a sociedade impõe às pessoas. O livro fala com honestidade sobre a necessidade de ser tratado e ser levado à sério o problema e pincela as consequências que pode causar.

Em vários trechos do livro eu me questionei sobre o forte trabalho de pesquisa que a autora deve ter feito para que o livro fosse tão consistente e tocante e me deu aquela vontade de conversar com ela, saber como surgiu a ideia e o que a inspirou. Aquele tipo de sentimento que se tem quando você lê algo original, bem escrito, diferente e convincente.

Adorei a leitura!!! Não deveria ter esperado tanto para ler e o recomendo para quem gosta de histórias fortes, bem escritas e que apesar de ser ficção, tem uma conexão direta com a realidade que nos cerca.
Não. Não posso. Não vou mais pensar nisso. Não vou olhar. Não vou poluir meu corpo com Blueberry qualquer coisa, nem muffins, nem cacos de torrada que fazem barulho quando passo manteiga sobre eles. O lixo e os erros de ontem já passaram por mim. Sou brilhante e cor-de-rosa por dentro, limpa. O vazio é bom. O vazio é forte. Página 11


Um pouco sobre a autora: LAURIE HALSE ANDERSON, é americana e atualmente mora em Nova York com a família. Se tornou uma aclamada autora após publicar inúmeros livros para jovens com temas relevantes e publicou também uma série de 12 volumes para o ensino fundamental. Seus livros publicados no Brasil são:
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Comentários
5 Comentários

5 comentários :

  1. Garotas de Vidro é um livro muito forte, te faz sofrer, te faz entrar em desespero, e chega a ser doloroso, mais é uma ótima leitura para quem quer trabalhar a empatia , se colocar no lugar do outro, sem julgamentos, sem preconceitos. Foi uma ótima jornada pelo mundo das garotas de livro. Super indico! Bjs

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Olá Ivi!! Entro para a lista de quem este livro na estante a muito tempo e ainda não achou o momento correto para realizar a leitura, pois li várias resenhas que como a sua descrevem este " choque" no decorrer da leitura...Mas creio que seja uma leitura obrigatoria, por se tratar de um assunto tão atual, e até tão pouco falado!Ainda este ano pretendo realizar a leitura dele!!
    Beijos e excelente leitura!!

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  4. Oi Ivi, um livro muito tenso mesmo, lembro que fiquei mal ao longo da leitura, mas não tem como não dizer para lerem.
    Bjs, Rose.

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  5. Um verdadeiro exercício a imaginação esta leitura! Fiquei bem curiosa para conferir por mim mesma, mesmo não sendo uma leitura tão leve assim.

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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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