O Mistério de Henri Pick (David Foenkinos)

segunda-feira, 27 de março de 2023

Ficha Técnica:

Nome Original: Le Mystère Henri Pick
Autor: David Foenkinos
País de Origem: França
Tradução: Julia da Rosa Simões
Número de Páginas: 256
Ano de Lançamento: 2023
ISBN: 978.65.566.6338-8
Editora: Tag Inéditos
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Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 25º livro lido em 2023 e foi O Mistério de Henri Pick (David Foenkinos). Esse livro chegou até mim pela Tag Inéditos e a sinopse me chamou muito a atenção.

O livro nos traz Henri Pick, um anônimo pizzaiolo de Crozon, na Bretanha, que, dois anos depois de morto, torna-se celebridade póstuma. Isso acontece quando um manuscrito assinado por ele é encontrado na biblioteca da cidade e após publicado, converte-se em best-seller e febre da estação literária. Sua família mostra-se perplexa. A viúva diz que seu marido não era um escritor, não rabiscava qualquer coisa e não lia. A única coisa que escrevia era a relação de compras necessárias para abastecer seu estabelecimento, de muito boa reputação local.


O manuscrito de Pick fora encontrado por uma jovem editora, Daphné Despero, que, em visita à região em companhia do namorado, o também escritor Frédéric Koskas, fora conhecer a biblioteca local. Lá ficara intrigada com uma sala reservada a “obras recusadas”. Autores anônimos que haviam escrito seus livros em total discrição, lá depositavam seus títulos condenados ao anonimato. Uma espécie de cemitério de livros. Havia títulos exóticos e também o manuscrito de Henri Pick que, por acaso, caiu nas mãos de Daphné. Ela o leu, encantou-se e resolveu publicá-lo. O manuscrito tinha o título de As Últimas Horas de uma História de Amor e o fato do autor querer a discrição se tornou uma excelente estratégia de marketing.

O caso literário transforma-se em história de detetive quando a família é convidada a participar de um badalado programa de televisão. Na entrevista, o apresentador do programa começa a desconfiar que talvez Henri Pick não seja de fato o autor da obra, o que gera indignação na viúva, nos familiares presentes, na direção do programa e em sua própria esposa. Caído em desgraça, o apresentador resolve ocupar o tempo livre tentando desvendar o mistério, na inusitada companhia da filha de Pick, Josephine.


A recusa de obras que depois se tornaram famosas faz parte da história literária. “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust, foi recusado por ninguém menos que André Gide, selecionador de obras para a Editora Gallimard. Viagem ao Fim da Noite, de Louis Ferdinand Céline, foi recusado. Ninguém queria publicar “Ulisses”, de James Joyce. Sem falar que a autora de Harry Potter foi recusada inúmeras vezes até uma pequena editora aceitar publicar a história do bruxinho órfão.

Portanto, Henri Pick é um caso notável, mas não de todo desconhecido do mundo literário. Quer dizer, sua história faz sentido, embora pouco provável e surpreendente e não é uma ideia destrambelhada ou pouco crível. Apenas curiosa e inusitada e propícia a causar um furor de mercado. Talvez se o livro viesse de um jovem parisiense promissor ou de um medalhão já consagrado pela Academia, não causasse o mesmo furor, mas vindo de um pizzaiolo bretão, tudo muda.

Esse é o fio condutor da narrativa que critica a sociedade atual. Num ambiente supersaturado de informações, como fazer com que uma delas sobressaia sobre as outras e se distinga no mar de ofertas em que se transformou a sociedade contemporânea? Apenas pelo inusitado. Ou seja, pelo que há de radicalmente diferente, não na obra em si, mas em seu autor. No caso, o modesto Henri que escrevia escondido e que no momento da revelação, já não pode falar sobre seu livro porque está morto.

Não por acaso, a certa altura do livro, fala-se de um estranho autor que no auge do seu sucesso, mantém-se no anonimato e recusa entrevistas. Quem, na nossa sociedade midiática, em que tudo é avaliado em termos de aparição pública, em redes sociais e likes, ousaria ficar à sombra e deixar que sua obra falasse por si? Bem, quem gosta de livros sabe que essa não é uma personagem de ficção – ela existe, chama-se, ou diz chamar-se Elena Ferrante. Best-seller mundial, ninguém sabe ao certo de quem se trata, ninguém conhece seu rosto e não se sabe nem se é homem ou mulher. Ferrante – seja lá quem for – é autora, entre outros livros, da “Tetralogia Napolitana”, que vendeu muito no mundo todo e já virou série de sucesso na HBO. Um caso exemplar e real de como a recusa ao marketing pode virar marketing por si só.


O mesmo mercado editorial pode ser o tema central nessa agradável leitura que é “O Mistério de Henri Pick”. Sem exibicionismos, expõe os prazeres e as contradições de uma cultura livresca, alma da França, que tem Voltaire, Rousseau, Zola, Montaigne, Proust, Balzac e tantos outros na condição de heróis nacionais. Mesmo na França, essa centralidade literária parece em processo de erosão diante do culto a celebridades deste estranho mundo novo das redes sociais, dos likes e da superficialidade. “O Mistério de Henri Pick” aborda tudo isso. Com muita graça e sem qualquer afetação, peso ou sobrecarga intelectual inútil. 

Eu adorei a leitura, achei o final maravilhoso e muito bem desenvolvido.


Um pouco sobre o autor:
David Foenkinos nasceu em Paris, em 1974. Estudou literatura e música. Além de ficcionista também escreve roteiros para o cinema. É autor de quase vinte romances.

Alguns de seus livros publicados no Brasil: 
  • Charlotte 
  • O Mistério de Henri Pick
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Ivi Campos

47 anos. De todas as coisas que ela é, ser a mãe do André é a que mais a faz feliz. Funcionária Pública e Escritora. Apaixonada por música latina e obcecada por Ricky Martin, Tommy Torres, Pablo Alboran e Maluma! Bookaholic sem esperanças de cura, blogueira por opção e gremista porque nasceu para ser IMORTAL! Alguém que procura concretizar nas palavras o abstrato do coração.




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