Nome Original: The Tyranny of Merit: What’s Become of the Common Good?
Autor: Michael J. Sandel
País de Origem: Estados Unidos
Tradução: Bhuvi Libanio
Número de Páginas: 350
Ano de Lançamento: 2020
ISBN13: 9780241407608
Editora: Civilização Brasileira
Oi gente que ama livros, hoje venho com a resenha do 110º livro lido em 2021 e foi A Tirania do Mérito (Michael J. Sandel). Minha curiosidade pelo livro surgiu em função de querer aprender e entender melhor o a meritocracia, tão louvada pelos tradicionais de direita.
No livro, o autor que é filósofo e professor, retoma alguns dos principais traços de sua filosofia política, dessa vez para analisar o que considera ser o papel erosivo que a meritocracia teria sobre uma comunidade cívica forte e saudável, e como esse ideal, inserido em um contexto de crescente desigualdade e de uma forma tecnocrata de governar, culminou na eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, e no Brexit, no Reino Unido. Dessa análise o autor deduz ainda quais seriam os passos necessários para atenuar, ou mesmo reverter, os efeitos nocivos do que ele passou a chamar de tirania do mérito.
Já na introdução do livro ele mostra como o ultraje público causado pela descoberta de um esquema fraudulento de ingresso à universidade serviu para evidenciar o quanto a sociedade estaria comprometida com o ideal meritocrático. E isso porque, para além de ver esse esquema fraudulento como uma forma desonesta de ter acesso às supostas oportunidades que a universidade é capaz de oferecer, a opinião pública também condenava o fato de que pessoas que não precisaram se esforçar usufruíssem da mesma estima daqueles que entraram na universidade por mérito próprio. Com efeito, segundo o autor, a escolha dos pais abastados por gastar verdadeiras fortunas para simular a aprovação legítima de seus filhos, quando podiam simplesmente deixar-lhes uma boa herança, comprova que eles buscavam algo além de um futuro confortável para seus filhos. O que eles buscavam comprar era o “brilho do mérito”.
O autor explica que a insistência dos governantes em responder ao aumento da desigualdade ocasionado pela globalização por meio de um discurso que enaltecia a meritocracia – isto é, a ideia de que todos têm a oportunidade de crescer, desde que se tenha talento e se trabalhe duro – trouxe implícito o raciocínio de que cada um seria responsável pela sua própria posição social, e, portanto, merecedor dela. Com isso, tornou-se mais fácil culpar os menos afortunados pela sua condição e, consequentemente, mais difícil de demonstrar solidariedade por eles.
Como agravante, ele atenta ainda para o caráter tecnocrata que a política havia assumido também como reação à globalização. Nesse sentido, lembra que foram os governos marcadamente liberais de Ronald Reagan nos Estados Unidos e de Margaret Thatcher no Reino Unido que deram início a essa tendência ao enxergar os mecanismos de mercado também como ferramentas para se alcançar o bem público. Como consequência, questões públicas que até então eram permeadas por divergências morais e ideológicas e para as quais a opinião dos cidadãos comuns era importante passaram a ser tratadas como questões de eficiência econômica administradas por especialistas e inacessíveis ao grande público.
O autor reconhece o valor do mérito e lembra que escolher com base nesse critério é a coisa mais justa e eficiente a se fazer. Daí ele dedica o segundo capítulo do livro a explorar as raízes do pensamento meritocrático e como o foco que ele coloca na maestria e autoconstrução acabou por torná-lo tóxico.
Nesse sentido, ele lembra que a noção de que nosso destino reflete nosso mérito é uma constante na civilização ocidental, sendo inclusive um tema central na teologia cristã, que, por muito tempo, debateu se os favores divinos e a salvação eterna seriam dados como recompensas por nosso comportamento ou simplesmente atribuídos de acordo com a vontade e graça de Deus. E, embora essa última versão tenha tido notória representação na história através de nomes como Agostinho, Lutero e Calvino, a ideia de que somos responsáveis pelo nosso destino e pela nossa salvação acabou prevalecendo, trazendo consigo a tendência que temos em enxergar o sofrimento e o infortúnio como sinais de pecado, e supor que aqueles que sofrem o fizeram por merecer.
Apesar de o livro tratar um tema sério e ter sido escrito por um filósofo, sua linguagem e simples e muito acessível e a leitura foi prazerosa no sentido de entender os argumentos que desestabilizam a filosofia da meritocracia.
Eu gostei muito!!!
Um pouco sobre o autor: Michael J. Sandel nasceu em Minneapolis em 1953. É filósofo, escritor, professor universitário, ensaísta, conferencista e palestrante estadunidense.
Seus livros publicados no Brasil são:
• A tirania do mérito
• Justiça
• Contra a Perfeição
• O Que o Dinheiro não Compra
• Liberalismo e os Limites da Justiça
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